segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

minha noite em cor-de-rosa.

Ele disse que eu parecia ter uns 25 anos.
“Ora essa!”, respondi do alto dos meus 23.
Ontem, ele trouxe salada de fruta, e beijou-me sabor tutti-frutti.
Concordei com ele sobre arte, e achei estranho.
Nunca concordo com ninguém sobre isso; talvez, sobre quase nada.
O cafuné no meu cabelo rosa deixou a mão dele colorida.
Doçura.
Bobice.
Vontade de ficar perto.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Carta a Cecília.

Lembras, Cecília, de quando éramos colegas de francês? Tínhamos um colega chileno, um senhor magro, de barba branca... Eu gostava do relógio de bolso que ele usava. Não sei por que me lembrei dele. De ti eu sempre lembro, Cecília, do teu riso desvairado e do teu cheiro de maracujá. Quanto tempo desde nosso último passeio no Parque Itaimbé... Lembra os ipês, Cecília? Nós sim é que sabíamos escutar os ipês. Como tu ficavas linda com aquelas flores enfeitando o cabelo. Saudade de ouvir tua poesia; nós duas deitadas sobre aquele tapete colorido. Mas o bater de asas é assim, Cecília, leva-nos para outros mundos, para outros corpos, para outras flores. É um barulho gostoso, pequena, apesar da saudade que as asas nunca levam junto. Por aqui quase não há ipês, Cecília. E os poucos que encontrei não falam. Será que falariam contigo? Ontem eu recebi uma ligação. Era Roberto. Lembras de Roberto? Ele continua tendo um sotaque gostoso. Roberto falou de quando eu o protegia do sol. O bater de asas, Cecília... Comprarei um relógio de bolso de presente para Roberto. Achas que ele vai gostar? Tu devias ir também para o sul, menina; seria um encontro bonito. Marcaríamos no relógio novo de Roberto o momento exato em que nos víssemos. Mas Roberto nunca saberá escutar os ipês. Talvez ele aprenda ouvir as camélias. Talvez ele já as ouça. Os ipês são nosso segredo, Cecília. É bom ter segredos. Ontem eu disse a Roberto que estava me sentindo linda. Eu estava tão bonita ontem, Cecília; devias ter visto. Um espelho, apenas um espelho... Eu continuo lutando, sabe. Conheci pessoas encantadoras por esses dias. Estive em um vilarejo com vento forte que levantava areia e trazia um cheiro de mar. Ouvi histórias de escravos e de maldições de raizeiros. Tu também sairias encantada de lá, ou amaldiçoada talvez. Nesse vilarejo nem é preciso relógios, Cecília, o tempo também bateu asas. Até mais, pequena. Perca-se na bagunça da tua/minha poesia, e escute os ipês, minha flor.

domingo, 18 de novembro de 2007

o choro e as hortelãs.

Cortázar disse que a duração média do choro é de três minutos. Deixo aqui dito que não me incluo nessa média. Choro por horas, até dormir exausta. Choro sem discrição. Choro lágrimas de crocodilo, embora goste mais de jacarés. Choro no cinema. Choro ao telefone. Choro em discussões no trabalho. Choro no ônibus e na parada de ônibus. Choro no centro apressado de fim de tarde. Choro embaixo do guarda-chuva, embaixo da chuva, nas ruas que sempre alagam das cidades litorâneas. Choro longe do litoral. E choro em casa, feito criança chorona de Cortázar, limpando o nariz na manga da blusa. Acho-me feia chorando. O rosto fica vermelho, com nariz de palhaço. Não gosto de palhaço triste. Eu moro sozinha em um apartamento sem sacada. Queria que meu apartamento tivesse as cores de Almodóvar. Até que tem. Queria ter vasos com pés de hortelã, mas viajo muito; as ervinhas morreriam secas. Não tenho ninguém para regar as hortelãs (que não tenho) para mim. E o motivo pelo qual eu choro tanto? Choro pela saudade do cheiro que as hortelãs trazem. Por lembrar que minha avó contava que quando ela e suas irmãs, no seu tempo de moças do interior, iam a alguma festa, colocavam uma folhinha de hortelã dentro do sutiã para usar como perfume. Ai, como eu queria ter um só pezinho de hortelã. Hoje choro pelas hortelãs. E choro muito. Mas amanhã chorarei mais, que o choro será por não ter ninguém nem para regar as hortelãs.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

elo.

Andávamos pelo centro de Porto Alegre e ele bateu a cabeça na placa de PARE;
continuou caminhado.
A última vez que o vi, ainda pude ver a marca na sua testa;
continuou caminhando.

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Guardo uma foto dele no caderno verde de antropóloga.
Uma foto em preto-e-branco.
Gostos dos casacos velhos e justos que ele usa.

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Ele: tenho medo de morrer.
Ela não quer que ele morra.
Ele: não quero ser uma coisa triste na tua vida.
Ela: estou feliz de estar aqui. tenho medo de partir.
Ele: não parta!
Ela: não morra!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

POST IT.

POST IT 1: Esconder os isqueiros; não esquecer!

POST IT 2: Não deixar as chaves perdidas pelo(os) caminho(os).

POST IT 3: Aprender a ser sozinha.

----- stand by ----- tag na mala.
POST IT 4: take this tag of your neck; não esquecer!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

antônio.

Antônio estava inquieto. Não achava de maneira alguma o que procurava. Ninguém sabia onde poderia estar. Talvez sua ex-namorada tivesse levado junto quando partira. Como ele poderia saber? Se realmente assim tivesse sido, ele nunca mais o recuperaria. Ela não atendia seus telefonemas. Disse que desapareceria da vida de Antônio. Até aquele momento a despedida não o preocupara, agora, no entanto, era diferente. Se ela o levara de fato, Antônio estaria perdido. Ele havia aceitado despedir-se dela; era a ausência da moça que ele ignorara assim, tão facilmente. Não que ele não desprendesse nenhum afeto por ela. Também não era o caso de terem brigado ou qualquer coisa do tipo. Ela era uma boa moça; era bonita, inteligente até certo ponto. O fato é que a moça o enfadava. Suas histórias o cansavam, seu sorriso lhe parecia amarelo, suas compulsões por limpeza o irritavam. Antônio sentia que a vida da namorada (agora ex-namorada) não cabia na dele. O problema era justamente esse: ela insistia em tentar colocar sua vida dentro da vida de Antônio. E ele não queria possuir a vida de ninguém, muito menos uma vida assim, tão sem-gracinha. Enfim, até então era apenas a ausência dela. Antônio não contara com esse outro sumiço. Desesperou-se. Revirou a casa inteira. Passou uma semana vasculhando. Abriu suas gavetas uma a uma, mesmo tendo medo das coisas que saem das gavetas há muito fechadas. Nada. Nadica de nada. Estava com ela, indubitavelmente. Só restava uma coisa a fazer. Sim, era uma solução drástica. Não, não era uma saída nem um pouco justa. Bem, a vida nem sempre pode ser justa. Não em momentos como esse. Antônio foi até a floricultura e escolheu as mais lindas tulipas que seu dinheiro de estagiário podia pagar. Pegou um papel. Escreveu à ex-namorada coisas bonitas que nunca diria, não para ela. Na carta, implorou, suplicou para que ela voltasse a sua vida. Antônio enviou as flores e o papel inescrupuloso. Depois ele daria um jeito nas conseqüências. O importante é que a volta da moça traria junto o que ele tanto sentira a ausência. Não deixaria nenhuma crise de consciência atrapalhar. Antônio precisava recuperar seu Surveiller et Punir autografado que herdara do tio. Afinal, Foucault era Foucault.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

liminaridade.

Os atributos de liminaridade, ou de personae (pessoas) liminares são necessariamente ambíguos, uma vez que esta condição e estas pessoas furtam-se ou escapam à rede de classificações que normalmente determinam a localização de estados e posições num espaço cultural. As entidades liminares não se situam aqui nem lá; estão no meio e entre posições atribuídas e ordenadas pela lei, pelos costumes, convenções e cerimonial. (...) Assim, a liminaridade freqüentemente é comparada à morte, ao estar no útero, à invisibilidade, à escuridão, à bissexualidade, às regiões selvagens e a um eclipse do sol ou da lua.
(Vitor Turner)



Fico pensando em mim como atravessando um estado liminar. Por vezes tendo a achar que este estado tem durado muito, que já deveria estar na fase de “reagregação”. Entristeço. Acho que nunca chegarei a esta fase. Ao menos não aqui. Flutuo. Deslizo entre as pessoas que não me reconhecem; nas quais não me reconheço. Procuro os cantos. Calo em momentos os quais geralmente me fariam berrar. Não tenho crises histéricas. Crises histéricas são para se ter entre os nossos. Rio pouco. Não dou saltinhos pelas ruas conhecidas (não existem ruas conhecidas). Não imito sotaque “português de Portugal”. Procuro manter-me neutra. Sinto-me doente, fraca. Tenho enjôos. À noite, congelo, depois umedeço as cobertas de tanto suar. Não tenho fome. Não tenho sede. Quase nem choro...

Vislumbro como única solução à volta ao estado inicial.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

cabelos.

Frio.
Tela piscando em cor-de-rosa.
Carolina diz: "não sabia que ser artista dava tanto trabalho, puxa".
Pensei que fosse perder Bruno aquele dia.
Não consigo mais dormir sem ficar lembrando.
Vamos cortar os cabelos esta tarde, eu e Bruno.
Meu cabelo não fica bagunçado nunca, só espetado.
Queria que a vida não fosse tão escorregadia.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Poeminha Territorial II.


E se Maria me abandonar?
E se Maria me esquecer?
Não vivo sem os caminhos de Maria.
E se Maria me trocar por uma estudante de filosofia vinda do interior?
Não, Maria, não me deixe com Vitória.
Vitória é bela, mas fria, Maria.
E um tanto burra também.
Ai, Maria.
Ai de mim.
Preciso do teu sopro,
do teu assombro.

sábado, 19 de maio de 2007

mais um drama que já passou.

acordamos. a noite bebendo cerveja barata e discutindo o existir. discutir cinco minutos antes de dormir como pedra nunca foi um ato inteligente. pensei que tu me acordaria chupando meus peitinhos. meus peitos, os mais lindos do mundo, ainda. mas não, claro que não. tu acordou com fome, de comida, infelizmente. nem quis enrolar na cama, nem pediu pelos meu gemidos. achei ruim. trágico, na verdade. não queria achar que parecíamos um casal entediado e imóvel. te vi gordo. te vi perdendo tudo o que sempre me pareceu tão sexy. à tarde não fomos ao sex shop como há muito combinávamos. te achei preguiçoso. a resposta de que tu não precisava de acessórios para me comer não me convenceu. continuei te achando preguiçoso. fiquei sem vontade de transar com um bukowski fajuto e aposentado. perguntei se tu precisava de um pouco de espaço, se queria ficar sozinho. acho que eu queria ficar sozinha. queria ler textos eróticos e me tocar, sem acessórios. eu sim sem acessórios. talvez imaginar anna karina lambendo meus mamilos. pensar em natalie portman fazendo strip em cima do meu corpo branco. ela estaria usando aquela peruca cor-de-rosa. era isso, queria ficar sozinha e não pensar em ti e em nenhum outro homem. os homens estavam parecendo inúteis. queria sexo, sabe. mas sexo de enlouquecer, de implorar por mais forte e por mais rápido. queria ser amarrada naquele instante e tremer apenas com um toque. pensei que tu nunca mais ia ser capaz de me fazer feliz assim. dessa felicidade de amantes irrecuperáveis. não sabia se algum dia voltaríamos a ser irrecuperáveis.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

música de roda da minha terra:

"a lua no céu também quer dançar,
não acha com quem e se põe a chorar,
mas passa um balão, bonito, encarnado
e dança com a lua um lindo bailado".

domingo, 13 de maio de 2007

cecília e as galinhas.

Cecília tropeça muito. É desastrada. Un éléphant dans un magasin de porcelaines. “Deve ser agradável entrar em uma banheira com gelatina”. Cecília ri de suas bobices. Acha-se ingênua. Quer ser ingênua. Cecília cansou de ser espertinha. Dá muito trabalho. Pensa em colecionar pedras. Trazer uma pedrinha de cada lugar. Sente falta de sexo. Não agüenta mais tantos livros. Espirra de alergia. Cecília queria ter letra bonita, como seu pai. E comer menos chocolate. Ela acha interessante estudar línguas indígenas. Não, mentira! Cecília nem se interessa por isso. Cecília interessa-se por galinhas. Claro, galinhas! Perdeu o medo que tinha das galinhas. Quem também se interessar por galinhas, escreva para Av. Morumbi, 8264 – São Paulo – SP – CEP: 04703-032. Aos cuidados de Davi. Cecília cansou de relacionamentos. Decide ir morar no mato. Faz uma trouxinha com sua colcha de retalhos. Cecília foi para o mato criar galinhas.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Encantar

do Lat. incantare
v. tr.,
exercer encantamento em;
seduzir, enlevar, maravilhar;
atrair;
v. refl.,
tomar-se de encanto;
enlevar-se;
maravilhar-se;
desaparecer, tornar-se invisível.


Teve medo do desaparecer, tornar-se invisível. Pensou não saber mais se diria: “sou encantada por ti”. Num daqueles dias, ela confessara que ele não mais a encantava. Hoje, justamente na manhã de hoje, ela acordou feliz. E sentiu (na fila do banco ela sentiu doçuras) que finalmente ele voltara a encantá-la. Ele gostaria de saber isso. Saber do desencantamento deixara-o desolado. Fora uma daquelas verdades as quais não devem ser ditas; só devem ser ditas quando se quer fazer doer. Não deveríamos querer fazer doer. Ou só fazer aquele doer pouquinho (nem sempre tão pouquinho assim) nos momentos em que o amante diz rouco, quase suplicando: “me bate” – ou me morde, ou me aperta, ou ou ou. Saindo do banco ela, ainda sentindo todas aquelas breguices de quem se encontra apaixonado, pensou, sem saber muito o motivo do pensamento, no significado da palavra encantar. Lembrou de contos de fada, de magias, de narrativas inventadas por seus pais antes de irem todos dormir. Queria que ele a encantasse, gostava de sentir-se encantada, até achava bonito isso de encantos tipo feitiço. Mas não gostou de lembrar de quando sua avó procurava o batom preferido, com aquele jeito esquisito com que as avós procuram as coisas, e depois lhe dizia, sem muito espanto: “meu batom sumiu como que por encanto”. Para sua avó tudo desaparecia no quarto repleto de coisas antigas e coisas guardadas e coisas de porcelana “como que por encanto”. Ela não queria que ele sumisse como que por encanto. Não queria que ele se tornasse invisível. Havia muitos anos que ela não mais acreditava em coisas invisíveis. A não ser, é claro, naquelas coisas que a medicina moderna ensinara a acreditar (e temer). Se ele se tornasse invisível ou ela não acreditaria mais na sua existência ou passaria a borrifá-lo com spray anti-séptico, mesmo não sabendo como poderia acertar com spray anti-séptico alguém invisível. O pior mesmo era pensar no desaparecimento. Ele sendo encantado, poderia sumir a qualquer instante. Seria triste, seria uma tragédia dessas de chorar soluçando por muitos dias. Se ela contasse ter percebido que ele voltara a encantá-la, não conseguiria deixar de dizer todo o significado ruim disso. E o dia foi perdendo a graça. Então, como que por encanto, ela pensou que se ela era encantada por ele, a magia dele recaía sobre ela. Os dois eram encantados, enfim. Ela também poderia desaparecer, tornar-se invisível. Sorriu. Percebeu que eles eram encantados apenas um para o outro. Serem encanto/encantados/encantadores era um ser-um-com-o-outro/um-para-o-outro. E sendo assim, apenas poderiam desaparecer, tornar-se invisível se fizessem isso juntos. Ela não teve mais medo. Sabia ser este um pensamento bobo, desses bem bobocas, e sem muita lógica, ainda assim não teve mais medo. Contos de fada, de magia, feitiço ou encantamento nunca fazem muito sentido mesmo. Ou então, não o fazem para muitas pessoas.

domingo, 15 de abril de 2007

pierrot.

acabou por aqui, por esse lugar.
chega de não-lugares.
marianne quer viver com pierrot.
marianne decidiu mudar o final do filme.
gosto das tuas fotos preto e branco
mas quero ver como tu fica colorido.
vamos encontrar alice e alex.
vamos terminar o desenho da nossa cidade.
e vamos rodopiar de mão no coreto central.

terça-feira, 3 de abril de 2007

caracol.

enjôo.
fazia tempo que este enjôo específico não vinha.
culpa dessa vida misturada.
agora sim vou pra Brasília.
e então?
lembra aquela pergunta:
vive-se de amor eterno,
mesmo nesse tempo pós-moderno?
aqui nunca faz frio, eu acho.
já é abril e não faz frio.
depois de Brasília, eu vou pra casa.
quero ficar em casa!
queria ser caracol e carregar minha casa,
e minhas pessoas.
queria ser um caracol com ar-condicionado.

quinta-feira, 22 de março de 2007

about me and cecília.

Cecília acorda [ainda está cansada]. Ela pensa em um cigarro, mas toma chá de hortelã. Veste-se mais rápido que de costume. O telefone toca. Dois toques. Ela sabe quem é; não retorna a ligação. Imagina que seria bom ser trapezista. Concentrar-se somente em não cair. Ela está ruindo. Cada parte de seu corpo branco desfazendo como gesso. “Como eu dormi”, ela fala espantada. A dor de cabeça confirma que o tempo passou às pressas por seu sono [ainda está cansada]. Cecília acende o cigarro. Tenta soltar fumaça redondinha. Não consegue. “Que saco”. Não lembra o que sonhou. Talvez ela tenha gritado e acordado com a voz saindo rouca. Ou isso foi na outra noite. Pega a mochila: agenda, cigarros, livro de poesia, caneta, bloco rosa pink e ansiolíticos. Esqueceu as fichas do ônibus. Volta. Rói as unhas e sai. Na rua, pensa que deveria ter comido algo, vai ficar tonta logo.

segunda-feira, 19 de março de 2007

tarô.

- tarô. tu acredita em tarô?
ela pensa "en las brujas yo no creo, pero que las hay, las hay",
mas responde:
- não, claro que não.
- o tarô disse que ele dissimula, que ele está tentando te manipular.
"jogos, sempre os mesmo jogos", ela lembra daqueles passos repetidos até a porta, do adeus mentido, do "eu não te amo mais" dito de qualquer jeito. da espera na esquina por um resgate. ela lembra do resgate que não veio.
"será que veio logo que eu virei a rua?"
quem sabe? ela não quer mais saber, tem um novo encanto.
- tu deve tomar cuidado com ele, viu. ele não vai se abrir, não consegue.
"mas abrir minhas pernas ele consegue, e bem rápido", e solta um riso pequeno.
- do que tu tá rindo?
- nada, nada não. e eu não acredito nisso, já disse.
- aqui está mostrando que uma ruptura se aproxima.
"tenho que parar de roer as unhas, quero deixar marcas", se dá conta do que ouviu:
- o que?
- ruptura, uma ruptura.
- por que?
- ah, não sei, isso as cartas não dizem.
"por que ruptura, que porra é essa de ruptura? e a nossa viagem para o sul?"
- que mais que diz aí nessas tuas malditas cartas?
- ah, tu não acredita, né!
- diz logo!
- não sei direito. acho que tu vai passar por um período de amadurecimento,
vai ser importante.
"quem se importa com amadurecimento. quero é o pau dele endurecendo enquanto encosta da minha bunda. quero a nossa vida juntos. quero as cores escolhidas pras paredes da nossa casa".
- tu tá bem?
- tô. e não quero mais saber desse negócio aí. que besteira.
passa discretamente o dedo para conter a lágrima que já desce, enquanto pensa, sem querer pensar:
"las hay..."

quinta-feira, 15 de março de 2007

vício/papel/Odorico

Posso estar viciada em ti?
Apaixonada? Não.
Não faria sentido...
Vício, eu costumo ter muitos.
Paixões, só as de sempre.
É certo, estou viciada em ti.
Em ti e em escrever-te em papéis brancos.
Poderia riscar-te em minha pele;
é branca tal qual papel.
Mas lembra o quanto arde quando nos cortamos
com a borda fina do papel?

segunda-feira, 12 de março de 2007

um dia triste, de um triste de fazer dó em quem a olhava olhando pela janela.
um dia triste como Mário Quintana velhinho descendo uma ladeira no mês de agosto.
uma tristeza que se podia sentir no jeito leve com que ela roçava uma mão na outra.
ela estava assim, o corpo mole, a vida mole, os olhos quase fechando.
lembrou que sua mãe dizia:
"teus olhos são tristes como os dá bisavó Santa; olhos de bugre".
ficou mais triste ainda.
a primeira lembrança de sua vida era a bisavó Santa lavando roupa
no tanque de pedra.
lembrar daquela sua pequenice vendo viver uma bisavó Santa,
em uma casa laranja da periferia de Porto Alegre nunca lhe pareceu tão cinza.
a bisavó Santa era benzedeira e parteira.
tudo que ela queria naquele instante parado era ser benzida,
ser parida, por qualquer santa.
num dia como aquele nem queimar o pulso quadriculando-se faria ela sentir-se viva.
nada, nem raiva, nem dor, nem um gozo morno e branco nos seus seios mornos e brancos, nada.
a tristeza que ela sentia não tinha mais tamanho, não cabia mais no seu corpo pequeno e
cada vez mais pequeno e mais pequeno e mais pequeno.
nada mais cabia na sua vida pequena e sem-graça que ela nunca quis viver.
estar viva e não se sentir viva era pior do que estar morta.
e ela ficou na janela,
sua tristeza sendo coberta pelo pó de minério que caía brilhando no ar.

domingo, 11 de março de 2007

amargo-querido.



A vida como uma saída de clown. Bufão? Tu acha? Escuto Villa Lobos. O vinil que Cris me deu. Sinto dor de dente. Estou engraçada hoje. Brava e engraçada ao mesmo tempo. Diovanna anda com Carolina pela casa. Minhas pequenas. Queria um sofá xadrez, em cores berrantes. Que tu me comesse em um sofá xadrez. Eu berrando entre cores berrantes. Gosto da máquina de escrever. É mais séria que o computador. Gosto de roer as unhas enquanto penso em ti. O que eu vou fazer contigo? Tu vai me dar trabalho, eu sei. E ainda por cima, não vai me comer. Talvez isso me encante. Como ele não quer transar comigo? Nem entre cores berrantes! Quero que tu me salve. Ninguém nunca me salvou. Estou vestindo bata hoje, acredita? Gosto daquelas buzinas de algodão-doce. Era amarelo o algodão-doce o qual disputamos, né? Naquela hora eu já soube que um dia tu ia me dar trabalho. E eu nunca fui uma rapariga trabalhadeira. Agora tenho que ser. Preciso te sustentar. E nem tenho nariz grande.

quarta-feira, 7 de março de 2007

baby.

Cecília decide casar. Cecília vai casar com o menino mais bonito da festa. O que anda engraçado e tem os olhos invertidos. A moça morde o menino, forte e mais forte. Nunca fica roxo. Cecília não consegue deixar marcas. Mera mocinha básica. Cecília aprendeu a ser doce, educada e a falar baixo. Ela quer gritar, cuspir na rua e queimar a língua de quem lambê-la. Cecília-pimenta (do reino?). Castelo de cartas. Quer morar em um castelo de cartas. Cecília quer ser princesa nua e ter um filho chamado Sebastian.

domingo, 4 de março de 2007

quadriculada.

Odeio ter sido quadriculada. Não quero Arnaldo Baptista saltando de janelas. Boca seca da ressaca. Saudade de réguas e estojos divertidos. Nem tenho mais estojo. Até isso a vida de gente grande nos tira: os estojos. Palavra feia. Vontade de tomar um café bem forte com Foucault. Não gosto dessa biblioteca. Não parece biblioteca, é barulhenta e clara. Começou a chover. Não trouxe minha sombrinha azul com bolinhas brancas. Loser tomar chuva de ressaca. Loser ter um bandaid no pulso. O cheiro do detergente do balde da moça que limpa a biblioteca me enjoa. O que eu vou fazer? Chiliques epistemológicos. Vontade de tomar coca-cola de garrafinha de vidro com Foucault. Medo dos trovões, mas não se faltasse luz. Isso não é um poema. Amo comprar saias em brechós. Amo comprar saias. Não posso ir para Porto Alegre. Preciso! Péssima construção frasal. Remeta-me. Não sou Ana Cristina. Lembro Ana Cristina branca, vestido branco, em um quarto branco, manhã branca. Eu era uma menininha de vestido colorido, bem bem bem colorido. Vamos fazer terrorismo de linguagem, meu amor? Amor cor de uva.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

carta de amor (Pessoa diria, mais uma vez, que cartas de amor são ridículas).

falar que estou encantada e que me entreguei, isso tu já sabe. que eu te amo e quero ser tua, também já repeti e repeti e repeti. talvez tu não saiba do medo que eu tenho. medo de que tu não te entregue. sei que não era pra ter sentimento de posse. mas o amor sempre quer ter um pouco da coisa amada. e isso não precisa ser triste. te quero por inteiro. e, mesmo assim, te quero livre. mas te quero de verdade. quero que tu seja meu namorado, meu marido, meu amante, meu dançarino que cai no chão na festa. quero ser tua namorada, tua enamorada, tua esposinha, tua puta, tua rainha, tua guria blasé. quero o teu sopro todo dia. quero o teu corpo todo dia e toda noite. e que seja assim, sem ser trágico. não quero que a gente se isole, nem que viva um amor egoísta. mas quero que a gente tenha umas piadas internas, que a gente se olhe umas olhadinhas de relance e já saiba o que o outro está pensando. quero que a gente vá nas festas juntos, no cinema juntos, na padaria juntos, no buteco fuleiro da esquina juntos. e quero também que a gente vá a todos esses lugares sozinhos, ou com quem se quiser ir. quero que isso de dizer "a gente" seja perfeito e mais perfeito ainda. e quando não for mais, pronto, que não seja, que se diga: Adeus, Maria Fulô. mas quero que seja sempre sincero, e que seja sempre tudo o que pode ser. não sei viver de outro jeito, não sei viver ser ser descaradamente, escancaradamente, inteiramente. quero uma vida calma, mas nunca morna. quero ser tua e que tu seja meu. e que tu entenda que isso pode ser leve, que isso pode ser doce ser ser enjoativo. entende, eu não nasci pra nada mais ou menos.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

cecília careca.

Quando Cecília tinha cabelos,
ela criava galinhas.
E transava.
Cecília era amante,
minha amante.
Um dia, Cecília matou as galinhas:
fez canja.
Deixou a Macedônia.
Cecília foi morar no Cerrado.
Ela não gostou da terra vermelha.
Vermelho não é cor para o chão.
Underground.
Cecília então foi à praia, e enferrujou com o sal.
Ela ficou da cor da terra vermelha.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Carolina, do alto de seus 2 anos e 10 meses, avisou que os "aliemígicas" estão invadindo a terra.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

carinho.


Em casa: é bom aqui. É calmo aqui dentro. Um pouco triste. O tio piorou. Fui visitá-lo com meu pai. Queria agarrar forte e não soltar. Perguntei: tio, me conta a história de Nossa Senhora da Salete? Ele começou a contar, mas com uma voz tão fraquinha que eu tive medo de ele ir-se no meio da frase. O tio ainda queria relacionar o mito da aparição com o contexto político da época, manifesto comunista e tal. Ele queria falar, mas eu tinha vontade de chorar e dizer: tá, tio, não fala mais, guarda esse fiozinho de voz. Aqueles pequenos olhos azuis... À tarde meu pai tinha decidido me mostrar o alto-Uruguai. Meu pai gosta de mostrar as coisas que ele já viu. Roubamos goiaba pelo caminho. E falamos mal da monocultura de eucalipto. Eu e meu pai nos parecemos. Queria ter os olhos de um verde vivo, como meu pai. Se eu pudesse, tirava toda a agonia dos olhos azuis do tio. E toda a preocupação dos olhos verdes do pai. Não queria ir pra longe deles nunca mais.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

fotografia.

Fotografo-me nua,
soprando bolinhas de sabão.
Cores de um prisma.
As fotos são tuas.
Quero que te toque olhando para mim.
Que tu ache meus seios os mais lindos.
Meus mamilos apontando
tua boca.
Me lambe, com calma, em paz.
Tu vai me achar doce.
Vai perguntar se pode morder.
Eu deixo,
a tua boca, eu deixo,
fazer qualquer coisa.
Et après?
Depois eu te chupo.
Te sugo, teu suco.
Lambuza meu corpo, meu rosto,
minha vida.
Tudo simples assim.Fotografia opaca e com borda.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

dramas.

I love you. La, la, love you... Hoje não tenho uma pergunta a ser feita. Nada a dizer sobre cidade nenhuma. Aprendi a engavetar. E aprendi a colocar saches para perfumar as gavetas. Quem sabe um vôo? Ganhei um bolo; um bolo com confeitos coloridos. A Fer ligou lá da Bélgica. Disse que na Bélgica não falam belga. Fernanda disse que belga não existe. Ando viciada em comprar cortinas. E essa estrada surpresa que não chega a porto nenhum? Sabe, eu preciso de platéia. “My contention is that the major genres of cultural performance (from ritual to theatre and film) and narration (from myth to the novel) not only originate in the social drama but also continue to draw meaning and force from the social drama”. Turner entenderia meus dramas? Queria minha mãe aqui, para dizer se estou bonita como uma noiva. Estou bem assim, mãe? Talvez ela aumentasse a dose do meu anti-depressivo.

esmalte.

Cecília sufocada.
Aquela tão conhecida vontade de gritar.
Não consegue respirar direito.
Queria desacelerar.
Cecília trêmula.
O que acontece, Cecília?
Tomou teus remédios, mocinha?
Cecília sente a boca seca.
Cecília sente a vida seca.
Quem ressecou tua vida?
O choro vem vindo e Cecília abaixa as pálpebras com as pontas dos dedos.
Abre los ojos!
Cecília olha molhado para o chão.
O esmalte branco descascado das unhas dos pés.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Sabe o pior dia da tua vida? Não foi mais o pior.
Pois bem, um moço poema-pintura-cinema; um moço perdido com uma garrafa de vinho...
Anna Karina falando e rodando e linda e nós lado a lado. Ah, deixa Godard para lá!
Um moço sonho-sonhado que tira meus óculos e diz que sou tão pequeninha e me aperta de confortar.
E me faz gemer meio rouca, e pede se pode ficar - fica e fica um pouco mais e um pouco até bem depois.
Esse moço fez a noite sorriso e foi para praia com o sol.
Foi numa brisa cantando White Stripes...e eu atravessei uma ponte sentido as bochechas corar.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Amanhã é meu aniversário. De presente, queria voltar. Voltar! E já que o amor é uma falácia, quero um casaco de pele de marmota. E se não puderes voltar? Quereria então gim com tônica; a vida seria amarga e amarga e amarga. E quem se importa com o teu/meu querer? Vou colar adesivos coloridos pelo corpo. Que cor colore a saudade?

domingo, 4 de fevereiro de 2007

os imponderáveis da vida real.


Sobre os imponderáveis da (minha) vida real (mania de Malinowski ultimamente; bizarro). Diego nasceu, parece o Marcelo-amarelo. Matheus disse que sou sua musa nouvelle vague. Foram as únicas coisas bonitas dos últimos dias. O tio piorou, e eu fico odiando mais ainda estar longe. Quero abraçar meu pai. Ele, mãe e Carolina foram visitar o tio. Mami doida acaba de mandar uma mensagem do celular: “Na estrada, atrás do caminhão de porcos; dois andares, os de cima cagam nos de baixo; fedorão! Dói meu pé contundido. A Nina dorme. O tio Jorge ficou dizendo - tiau Nina, tiau Nina. A gente queria voltar, pegar no colo, não deixar ir. Estamos em Passo Fundo, num temporal. Te amo!”. Minha mãe é uma doce maluquinha. Estou bonita hoje, vestindo vestido velho. E chove. A chuva daqui não é bonita como a chuva que eu gosto. Ana disse que eu sou cruel; não gosto de ser cruel. Dia desses, comemos no restaurante japonês. Ana riu de mim com os palitinhos. Sou cruel e atrapalhada. Carolina ainda está emburrada comigo, pela distância. Não fala no telefone, diz para mãe que eu sou “nojenta de perna de barata”. Em março, viajo a Brasília, pensei que seria ao Maranhão. Pena, queria conhecer o Maranhão. Brasília é seca, não só no clima. Queria falar com tanta gente, mas cansei de internet e telefone. Sexta, vou para Porto Alegre. A vida vai voltar a ser boa.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

saudade de casa e do Poko.

Cecília observa Degas.
O ferro não funciona direito.
Quem se importa
se Cecília vai aos Correios?
se Cecília come brioches?
se vira uma porca de gorda?
se fazem torresmo?
Cecília vai à Prainha.
Nem tem biquíni,
nem tem bolinha.
Tem boleta, Cecília?
Tem buceta, Cecília?
Ai, que sem-gracera sem fim.
Cecília quer abraçar a mamãe:
“abraço apertado até ter melhorado”.
Cecília está cheirando a Alvex.
Ela limpou a casa.
Cecília limpou a casa por dentro.

ilhas Trobriand.

Relendo os textos de Malinowski sobre as ilhas Trobriand:

“Entre esses nativos, a castidade é virtude desconhecida. Eles são introduzidos à vida sexual em idade incrivelmente precoce; muitos dos seus jogos infantis, de aparente inocência, não são na realidade tão inócuos como poderíamos crer. Com o tempo, os jovens passam a uma vida de promiscuidade e amor livre; gradualmente, porém, se vão envolvendo em casos mais sérios e duradouros, um dos quais termina em casamento. Antes que isso aconteça, entretanto, as jovens solteiras são livres para fazerem o que quiserem; existem, inclusive, arranjos cerimoniais em que as jovens de uma aldeia vão em grupos a outros locais. Ali se põem em fila para inspeção e cada uma delas é então escolhida por um rapaz, com o qual passa a noite. Esse ritual é denominado katuyiausi. (...) Há um outro tipo, bastante notável, de ritual licencioso em que, as mulheres abertamente tomam todas as iniciativas. Durante os trabalhos agrícolas, na época em que as ervas daninhas são arrancadas dos campos, as mulheres perfazem essa tarefa comunitariamente. Está sujeito a grandes riscos o estranho que nessa época se aventura a passar pelo distrito: as mulheres o perseguem, o agarram, arrancam-lhe a tanga e o tratam de maneira ignominiosa e orgiástica”.

Apenas relendo...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

o pirata e a tulipa.

“Babies não dizem bye bye”. E quem diz? Meus cabelos são os mais lisos e finos, e estão caindo. Meus cabelos roxos caem. Uma tulipa apaixonou-se por um pirata. Sem perna-de-pau. A tulipa gosta de circo. O moço moreno me comeu até que a tulipa doesse. Ela gostou de doer. Sou fofa; além de ser uma lagartixa listrada. Será que lagartixas listradas têm medo de baratas? Eu tenho medo de baratas. Casei com um poeta barbudo. Vou ter camisetas pintadas, filhos polacos, e muito sexo oral. Tenho que arcar com as conseqüências. Há! Desde quando lagartixas listradas pensam nisso? Tulipa acrobata, com ventosas. Raios-de-sol têm cheiro de nenê. Vou ter a Cecília. Vai ser minha. Cecília vai ser filha de um pirata. Seu jardim vai ter tulipas. Talvez margaridas. Vou fazer um bolo de margaridas. É carnaval. É meu aniversário. Farei um churrasco (mas comer carne é assassinato!). Vacas são burras. Galinhas são toscas. Acabo de matar um mosquito. O pirata telefona e diz que ama a tulipa. Ela chora-ri. Queria desenhar essa história. Quem dirige os táxis são os taxistas, sabia? Eu fui rainha da festa da uva. Não, não transei no Gasômetro. A lagartixa listrada escondeu-se na barba do poeta. O pirata foi morar com uma borboleta. A tulipa ficou chorando. Gosto do jeito que o moço moreno fala. Gosto de ouvir o moço moreno. Vou dormir no poeta barbudo. Existe uma espécie chamada cuicuicui. Só existem dois cuicuicuis no mundo. Eles são doidinhos, doidinhos. Os cuicucuis vão ficar juntos para sempre e sempre. Antes de dormir, a tulipa canta ao pirata. O pirata é livre por ela. Piratas gostam de Fanta Uva. É uma história bonitinha. Um pouco triste também. Queria que meu porto fosse o pôr-do-sol do lago-rio. Queria morar no lago-rio, dentro de um navio pirata; ou de um pirata navio.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

antropológicas.

Cecília mascando chiclete de canela.
Canela é afrodisíaco?
Ei, Cecília, tu não precisa disso.
Cecília é meio taradinha.
Tem mil amores, e, então, mil dores.
Cecília acha que dói estar viva.
Vivas para quem?
Cecília quer que o frio arda seu rosto.
Será que cansamos uma da outra, Cecília?
Será?
Que bom seria chá de maracujá na Casa de Cultura.
Bom.
Um dia, Cecília apaixonou-se por um antropólogo que tomou soro na veia.
Cecília achou lindo ele deitado na maca, tomando soro.
Ai, ai, Cecília.
Encontro escuro numa manhã amarela.
Odeio sol.
Solamente.
Rodando a saia.
De que adianta morar no centro?
Fazer rimas desbotadas?
O botão primeiro do vestido se abrindo.
Meu seio direito no vento.
Solamente.
Quer uma florzinha cor-de-rosa, Cisneros?
Ela brilha no escuro; quer?
Odeio manhãs.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

cidade alta


fui na praia.
não gosto de praia sem a carolina nem o bruno.
andei nas pedras da praia.
não gosto de predras na praia sem meu pai para me dar a mão.
saudade de novo e de novo e de novo.
e nada novo por aqui.
mentira. tem a espera nova.
a espera pela cidade altaevelha.
e quem sabe um passeio de mão. ou não.
mas quem sabe sim.
e quem sabe do amor com o calor que faz?
sempre essa pergunta.
acho que sim, sou solitária.
mas não é bom dizer isso.
é bom quando tu diz que quer me deixar menos solitária.
quem sabe então eu escute menos sigur rós.
mas não conta da minha solidão.
medo de viciar em ti, sabe?
medo de bagunçar a tua vida.
e mais medo ainda de só bagunçar a minha.
mas não conta que sou medrosa também.
só me leva num passeio.

domingo, 28 de janeiro de 2007

Poeminha Territorial

Um dia, li no jornal:
Vitória morreu engasgada,
com moqueca.
Não senti pena de Vitória.
Achei engraçado: era a única morte que lhe cabia.

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A minha estrada de tijolos amarelos leva a Maria.
Maria ri das minhas piadas,
mesmo as repetidas.
Maria é meio puta.
Maria parece uma puta francesa.
Maria tem um cheiro gostoso
e entende cinema.
Maria entende tudo de mim.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

coleção


Coleção
de amores (crônicos)
e paixonites (agudas).
Deitados sobre um lençol,
azul com bolinhas brancas;
bolinhas aos milhares.
Coleção dramática.
Perguntou: “A parede é oca?”.
Minha caneta, por favor.
Recebo um abraço, pequeno.
Fico chupando o dedo.

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Me ama?
Quanto?
Prova, benzinho.
Quero coisas matemáticas.
Cansei de lirismo.
Meu amor agora pode ser comprado
com um cd do My Bloody Valentine.
Estou assim: toma lá, dá cá.
Bem melhor.
Me acalmaria andando de moto.
Nem precisa ser Mobillette.
Ai, vontade de Theo e Isabelle,
juntos, no cinema.
Chão xadrez da cozinha.
Dói esse frio.
Dói esse amor utilitarista.
Cof, cof, cof.
Meu casaco engancha no bloco de anotações
rosa-pink.
Lembra benzinho?
Tu quem me deu esse bloco.
Desbotou.