sábado, 17 de fevereiro de 2007

carinho.


Em casa: é bom aqui. É calmo aqui dentro. Um pouco triste. O tio piorou. Fui visitá-lo com meu pai. Queria agarrar forte e não soltar. Perguntei: tio, me conta a história de Nossa Senhora da Salete? Ele começou a contar, mas com uma voz tão fraquinha que eu tive medo de ele ir-se no meio da frase. O tio ainda queria relacionar o mito da aparição com o contexto político da época, manifesto comunista e tal. Ele queria falar, mas eu tinha vontade de chorar e dizer: tá, tio, não fala mais, guarda esse fiozinho de voz. Aqueles pequenos olhos azuis... À tarde meu pai tinha decidido me mostrar o alto-Uruguai. Meu pai gosta de mostrar as coisas que ele já viu. Roubamos goiaba pelo caminho. E falamos mal da monocultura de eucalipto. Eu e meu pai nos parecemos. Queria ter os olhos de um verde vivo, como meu pai. Se eu pudesse, tirava toda a agonia dos olhos azuis do tio. E toda a preocupação dos olhos verdes do pai. Não queria ir pra longe deles nunca mais.

2 comentários:

  1. Creio que a gente sempre se identifica com os olhos de quem ama.

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  2. alto-uruguay , monocultura de eucalipto ?!

    Familiarizo-me ! :-|

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