quinta-feira, 31 de março de 2011

notas dos últimos dias de março.

Comprei um vestido florido (nenhuma novidade).
Quase não consegui sair da cama,
a vida anda muito crônica para encará-la.
Eu nasci em um rio escuro, lodoso, por isso sou meio peixe,
respiro mal fora d’água e gosto dos dias úmidos.
Ontem, um pássaro piscou para mim de cima da caixa do correio,
corri para abrir,
achando que era o sinal de que missivas me haviam chegado;
nem mesmo um bilhete.
Olhei feio para o pássaro e ele voou,
arrependida, chorei.
Ouvi um vizinho ensaiar trompete e ri dos desafinos,
dos dele, não dos meus.
Minha mão melhorou, mas a ferida ainda não fechou por completo
(alguma ferida fecha por completo?).
O médico disse que ficará uma cicatriz (nenhuma novidade).
Enfrentei uma barata como se isso fosse salvar minha vida,
a barata escapou
e eu desacreditei a salvação.
Fui ao cinema e chorei, menos do precisava,
mais do que o resto do público aprovou.
Vontade de parar com o choro e botar as barbatanas no rio.

8 comentários:

  1. Seria um prazer te enviar uma missiva.
    Pra vc não olhar feio para o pássaro.
    = )

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  2. eu tenho tanta dificuldade nas cicatrizações de pele, e de alma...

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  3. Concordo que a vida anda muito crônica pro meu gosto...
    E pra desanuviar: Adorei o teu cabelo novo. Quero igual ;)

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  4. Sem diagnósticos, só por curiosidade, que filme você viu?

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  5. Ai que saudade de vc nesses dias úmidos e lodosos de Vitória!

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  6. Dias cinzas e belos, estes seus últimos de março. feridas nunca fecham por inteiro, o ar continua rarefeito e as baratas, sempre nos traem. Resta teu vestido florido, para bailar nos teus, belos, versos.

    Lindo relato.

    beijos.

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  7. Ah, minha querida, a alma sempre improvisa dentro o que gostaria de ter como meio. Para barbatanas, a correnteza fértil dos dias tristes. E quem disse que com os afetos é diferente? Começamos por dentro a amar, para que o amor, em seguida, nos circunde como experiência sensível e real. A alma é essa membrana que permeia a osmose entre o de dentro e o de fora.

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