segunda-feira, 18 de abril de 2011

dentro.

Claro está que o tempo aqui dentro passa mais depressa do que a minha respiração pode acompanhar sem faltar o ar. Mas aqui dentro surgem lembranças ágeis não combinando com clima de imobilidade. Meu interior é um mundo também composto sabe-se lá de quais/quantos extra-humanos. Bebo chá de camomila para agradar o corpo e borrifo essência de alecrim no quarto de janelas sempre fechadas. Meus olhos de bugre, que minha mãe diz herdados de minha bisavó, cansaram das miradas entre quatro-paredes, entretanto, têm preguiça da luminosidade. No mais, eu me preocupo com o que dizem os profetas, não pelas profecias, mas pelo tom de gravidade o qual sempre me emudece.

5 comentários:

  1. muito bom isso. forte, com a pujança literária independente do temário, (que independe também dos profetas no texto).

    ResponderExcluir
  2. muitas vezes tenho preguiça das pessoas, a luminosidade não me incomoda...

    ResponderExcluir
  3. A desnudez da gravidade me emudece.

    ResponderExcluir
  4. Sua última frase foi como baixar a agulha sobre um antigo vinil de Zé Ramalho que tocava sabe lá em que casa da vizinhança da minha infância. Eu devia ter cerca de uns 3 anos e não compreendia a inquietação solene que me acometia sempre que ouvia A Terceira Lâmina, vinda de fora da casa, do quintal, da rua, pela janela. Com ares, portanto, de anunciação. Mesmo hoje, quando escuto, entendo mais pelo tom do que pelas palavras. E fico toda cúmplice de mistérios e outros misteres inexeqüíveis.

    ResponderExcluir