sexta-feira, 4 de março de 2011

coisas que ela quer...



Ele tem uma cor que faz bem, uns olhos escuros que sabem mirar. Algo tão novo parecendo um antigo calor. Ele é pequeno, ela quer abraçar. Ele machucado, ela ninando, segurando no colo, segurando em si. Ela quer apertar a mão dele por um tempo sem relógio, conversar sobre os Azande, ouvir folk songs, recitar Cisneros, oferecer drops de laranja, qualquer coisa, mas de mão. Ela, branca e falante, agora fica corada e perde as palavras. Mas não quer esconder coisas boas, porque aprendeu a mostrar tudo de si para quem sabe ouvir. Ele sabe ouvir. Ela também tem fraturas, aquelas de sempre, as que ficaram ali, lembrando que existem quando o tempo está para chuva. Ela, sempre tão cinza, quer ser sol para ele, quer ter olhos que não sejam de nuvem. Ela quer aprender com ele a pedalar. Ela teria uma bicicleta com cestinho para colher flores (do campo, sinceras como a última noite) e presenteá-lo, com o vestido voando e um sorriso discreto. O sorriso dele também é discreto, mas ela sentiu caber ali dentro. Poderiam passear pela grande cidade, tímidos e trôpegos como Jacques Tati.

São pensamentos dela para ele.

Ela teme o desencontro, mas vê que caminhos diferentes continuam sendo caminhos. E caminhar (ou pedalar) pode levar até à beira de um lugar bonito, novo e com vento fresco.

Ele ainda não sabe, ela sussurra daqui:
- Eu vivo por dias mais frescos...
E o sussurro é também um convite.

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