quarta-feira, 7 de abril de 2010

da subida.



Ele disse: “A piece of me is yours”. Ela já sabia, já sentia, mas era sempre bom ouvir. Saiu de casa, escutando nos fones as canções de quando eram apenas eles. Agora, tinha um ar de petúnia em tudo o que ela fazia, em tudo o que via. A escada se alongava, deixando verem suas calcinhas por baixo dos degraus vazados. Ela não se importava, e subia, mesmo tonta. Quanto tempo se passara desde o primeiro levantar de perna? Não lembrava se começara a subir com o pé esquerdo ou com o direito. Fazia diferença? Ao menos ela carregava araçás no bolso do vestido, caso a fome a assaltasse e ela já estivesse muito longe para o retorno. E sempre havia a possibilidade de descer escorregando pelo corrimão, embora isso provavelmente a tonteasse ainda mais. Por fim, podia se jogar, quem sabe ela pudesse voar, ou flutuar, nunca se tem certeza da própria anatomia; lembra daquele moço que tinha o coração do lado direito? Então, essas coisas acontecem... Ela, sempre tão medrosa para as alturas, ia e ia e ia, cada vez mais para lá de onde se sabe o que encontrar. A porta da qual haviam roubado a maçaneta ficara para trás fazia tempo, nem era mais possível escutar o seu rangido. Subir, num bolso os araçás, no outro, a piece of him, e na boca, um cantarolar de quem sabe sempre ir.

6 comentários:

  1. Gostei dela!
    Gosto dos que sabem ir.
    A estagnação é a pior das desgraças.

    Bju, querida!

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  2. Pessoas em grandes pedaços ou, em fragmentos.

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  3. Que saibamos sempre ir, minha Bê querida! Que saibamos!

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  4. É bom saber ir mesmo.
    O caminho, tortuoso, nem sempre é visível.
    Bom andar com quem conhece.
    Um beijo!

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  5. Saber ir é uma dádiva. Ficar, quando já não há espaço, é sufocante.
    Enquanto sobes, ficamos, todos nós, dando espiadelas... hahaha.

    Beijos.

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