segunda-feira, 23 de novembro de 2009

saudade.

Deixo agora os textos não postados inspirados no moço-moreno:


Dani-Dani

Ô, moço moreno aí de cima.
Ô, moço bocudo.
Toma banho comigo?
Me leva pela mão até o Gasômetro?
Vai ser divertido.
Vamos ser poligâmicos juntos?
Ué, tá rindo de que?


About me and Cecília IV

Viraremos um cacto. Um só cacto. Terei que dividir até meu eu-cacto contigo. Morri. Pedi que me matassem. Não é um pedido complicado. Nunca é muito complicado. Talvez um dia eu odeie em vez de amar. E acabe com tudo, com nitroglicerina. Talvez Cecília faça tanta coisa. O pirata vai nascer a Cecília. Não duvide. A tulipa ainda chora. A loucura é uma construção social? Gosto do caos. Me leia. Mas não morde minha mão. Quero teu cheiro. Pseudo-vícios. Somos muito criativos, realmente. Pirulitos de coca-cola no meu aniversário. Crianças. Ainda tem as minhas crianças. Canto cantigas de roda. Lembra de me soltar. Odeio gramática. Sou grave. Venta muito nessa cidade. O barulho dá medo. Usar casaco e tomar café é bom. O inverno ainda demora. Já me demorei por aqui. Vou ali comprar cigarros. Ao sair, feche as portas do meu medo.


A teus pés

Presente. Fazia tempo que não me presenteavam. Terapia gratuita. Bom? Não? Não sei. Já tenho minha psiquiatra. Ela não deve mais me agüentar. E quem me agüenta? Pensa um pouco, guria: tu não faz nada que preste. Presteza. Queria cantar. E rodopiar. Quatro dias sem ele. Inferno. Vou me despedir [cansei]. Não é uma disputa justa. Nem é uma disputa. Sarau dos Imaginários. Hunf. Então me desenha, seu merda! Me imagina de verdade [cansei]. Não sou monogâmica, mas te quero por inteiro. Que tu te entregue. Lembra? Lembra eu acordando, com meu cabelo roxo espetado, querendo que tu me comesse. Me desenha assim. Eu vou embora. Mais uma vez. Não pode doer mais do que das outras vezes. Sonhei nós no cinema. Transando no cinema. Sonho bom. Chega de ti. TAZ/ZAT. Eu devia ler menos. E comer mais bolachinha recheada. Devia usar salto alto e ser mais tranqüila. Suck me. Baibe Bê. Maldição antropológica. Gosto de andar de trem.


Mais do pirata/moço-moreno do cerrado

Lost in translation.
Living with you.
Mergulhe em mim.
Inclusive um pirata,
excluindo um poeta.
Elegendo Ilíada.
De quem?
Auto-definição étnica.
Cruzes, no more links,
no more drinks.
Hotel vagabundo.
Eu vagabunda.
Isso, minha coxa direita,
bem forte,
enquanto não vôo.
Atraso.
Turbulência.


Estes, já estavam por aqui:


http://dansesurlamerde.blogspot.com/2007/03/quadriculada.html

http://dansesurlamerde.blogspot.com/2007/02/o-pirata-e-tulipa.html

http://dansesurlamerde.blogspot.com/2008/01/adios.html



São pra ti, mesmo tu estando além daqui, Dani, de algum dia, sobre as coisas da gente.

o moço-moreno se foi.

Sexta (20 de novembro de 2009), eu perdi o meu moço-moreno-do-cerrado, o meu pirata, pirata-navio.
Quando eu e ele, o Daniel Pádua, passamos nossos primeiros dias juntos, ele postou contando/cantando:

NODOS. A arte de conjurar universos.

Foram mais de dois mil quilômetros. Horas a fio, enclausurado no perímetro da poltrona até bastante confortável do ônibus. Chegando lá, perdido na multidão, só um ponto de encontro o guiava. Aquele entre a rua e a água. E no meio de barraquinhas e expectativas, muitas expectativas misturadas, ela inesperava num vestido de vovó, preto com bolinhas coloridas na lapela. Com seu cabelinho punk rebaixado, educada como lhe ensinaram… fazendo questão de disfarçar o brilho nos olhos com um jeitinho do contra que enganava a todos, menos aos que sentiam amor por ela. Por isso, o primeiro abraço foi mais que um abraço, foi uma declaração. “Eu sei quem você é, garota! Ri um pouquinho, vai?” As pernas cansadas vibravam bem dispostas, a cada quilômetro que gastavam juntos. Não fazia sentido pra ninguém, mas como poucas vezes sentiram, o calor do outro bastou. Por poucos dias, foram dois. Eternos, pré-destinados, indispensáveis. Envolvidos sem véus. Sem medo. Todo um novo mundo a se aventurar.

Mas o que ficou foi apenas o reflexo nas lágrimas que compartilharam em despedida, num roçar da pele macia e adorável, de um rosto inesquecível. O rosto da companhia.

O avião deixou ali uma vida inteira.


Eu também já postei por aqui várias marcas que ele deixou. Entramos um na vida do outro, pulando a janela, no ano de 2005 e nos amamos pra sempre. Fomos felizes, sonhamos uma filha, sonhamos largar tudo e fugir juntos, sonhamos andar de mão...
Ele foi assim, um doce, uma brisa livre que me fez aprender a voar livre. O Dani-dani foi um sonho moreno a me chamar de anjinho punk. Agora ele se foi, o Dani se foi. Dói. Dói muito. Os dias serão ainda mais secos no cerrado sem ele. E meus dias também.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

sobre a agência dos não-humanos.

Como se chegar à beira fosse refrescar.
Ela pediu um dia de areia-mar na praia das bromélias, embora não tivesse visto bromélias da última vez.
Estendeu a canga preta com bolinhas brancas que comprara no outro ano, e abriu o guarda-sol colorido tomado emprestado na casa vermelha.
Sozinha, teve dificuldade em fincá-lo na areia.
Um caranguejo beliscou o seu mindinho, a moça se assustou.
O guarda-sol, vendo a falta de jeito dela, ajeitou-se melhor fazendo sombra, sentiu pena.
Sozinha, teve dificuldade em passar o protetor solar nas próprias costas.
O guarda-sol olhou de canto, entretanto, nada pode fazer.
Ela cantarolou Dorival e bateu fotos do guarda-sol, ele sorriu.
Estava mais fresco, sim, estava.
A moça adormeceu sobre a canga/sobre a areia agradecendo o vento que vinha do oceano.
O mar estava parado, era o guarda-sol que gentilmente soprava,
e ele recebeu um olhar terno do pequeno caranguejo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Chove forte,
forte como eu gosto de sentir teu corpo penetrar no meu.
Vejo-te indo, mais pra lá a cada trovoada.
Tu não escuta quando eu chamo
e eu guardo meu riso no bolso do casaco pra que ele não se molhe.
Te guardo também, esperando dias-castelo-de-areia-no-sol.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

piano bar.

Costurava, sempre pontos invertidos, espetava sempre as mesmas marcas na pele fazendo doer.
O gato-xadrez tinha um cheiro guardado, os recortes, retalhos desfiados.
Eu não conseguia nunca sair do piano bar, ouvia as teclas e olhava pra trás e chorava e lembrava e tinha aquela coisa no peito.
Um dia eu tinha achado tudo tão bonito,
e lembro-me de ter beijado teu ombro na primeira noite e tive muito medo da entrega quando já tu fazia parte do meu corpo,
de uma maneira fatal, algo que não se descola sem cortar a carne e sangrar de deixar só fraqueza.
Caminhamos de mão, muito na chuva, torramos boiando no sol e ventamos, sempre muito no choro.
Mas era amor, essa palavra pequena que eu nem sempre entendi, nem sempre achei justa e sempre senti por ti.
Eu construí uma casa, com piano, a casa piano bar, que era pra que tu tocasse a marcha nupcial e também qualquer outra coisa, apertasse as teclas despretensiosamente, que fosse, mas com carinho, mas para mim.
Tu não tocou e a casa piano bar não foi morada, tu não fez morada aqui do meu lado, nem perto, nem nada.
Tu, e era sempre só tu, foi sempre só tu, para mim e para ti.
E eu bato no peito, no meu peito, te mando embora, vai!, te mando embora todos os dias, choro querendo rasgar, arrancar o meu peito e teu nome daqui, mas não sai.
Mesmo tua vida sendo já outra, mesmo eu nunca tendo visto o piano, mesmo sem ver, e já há muito sem ver, teu amor, tua música, teu sorriso (nunca riso desvairado) por mim, eu não consigo descosturar o gato xadrez. Queria, estrebuchá-lo, arrancar tudo meu que os pontos dele prenderam.