Contente.
Estou escrevendo para dizer que tua expo no Paço Imperial mudou a paisagem. Talvez isso não te importe, enfim, as coisas que escrevo não me devem satisfação, nem a ti. Andei perdida no Rio, sabe. Sempre voava por ali, nas minhas conexões para casa, para o meu sul. Nesses dias resolvi ficar. O centro do Rio lembrou o centro de Porto Alegre e eu me senti menos trêmula. Ando muito trêmula desde que mudei pra Vitória. Tinha medo de achar o Rio parecido com Vitória. Não achei. Mas me senti muito sozinha andando sozinha por lá. É estranho visitar lugares que não me pertencem, que não remetem a histórias nem minhas nem dos meus. Estou parecendo possessiva sem querer parecer assim. A verdade é que tenho andado por aí e passado por muitos não-lugares. Não tenho conseguido marcar nem ser marcada pelas paisagens. Sempre consigo ser marcada pelas histórias que ouço. Eu estava achando o Rio muito bonito. Até me senti feliz quando encontrei por acaso no Aterro do Flamengo as bandas de congo das comunidades de Retiro e de Araçatiba. Foi bom rever as pessoas e sambar-sem-saber-sambar na areia. Mas não era nada do Rio que estava me marcando, eu é que já estou marcada pelas comunidades quilombolas do Espírito Santo. Sempre as histórias que ouço. Mas o que eu quero dizer, é que tu me contou uma história. Tu me contou uma história no Rio de Janeiro. E eu me senti marcada no pouco (na verdade nem tão pouco) tempo em que fiquei na tua/minha sala de exposição. Era a minha sala, sabe. Eu ri ali olhando tudo o que consegui ver e ouvindo as músicas me doendo. Mesmo doendo eu ri. E me achei, me senti menos sozinha. Foi doce sentir a minha amargura encontrando a de alguém que eu nem sei quem é, e concordando com ela em muita coisa. Eu senti menos medo de andar por aí. Gostei de saber que posso encontrar, num repente, num domingo, num antes não-lugar, algum desgostoso (ou vestígios de algum desgostoso) que ainda não perdeu o lirismo. Ah, no domingo mesmo comprei um bloco e voltei a desenhar.
Precisava te contar, mesmo sem saber se tu queria ouvir. Vou publicar essa carta no meu blog (vestígios de adolescência que não quero perder) e quem sabe encaminhar outras pessoas para as tuas/minhas/delas histórias. Obrigada pela tua intromissão na minha vida.
Beijo.
Estou escrevendo para dizer que tua expo no Paço Imperial mudou a paisagem. Talvez isso não te importe, enfim, as coisas que escrevo não me devem satisfação, nem a ti. Andei perdida no Rio, sabe. Sempre voava por ali, nas minhas conexões para casa, para o meu sul. Nesses dias resolvi ficar. O centro do Rio lembrou o centro de Porto Alegre e eu me senti menos trêmula. Ando muito trêmula desde que mudei pra Vitória. Tinha medo de achar o Rio parecido com Vitória. Não achei. Mas me senti muito sozinha andando sozinha por lá. É estranho visitar lugares que não me pertencem, que não remetem a histórias nem minhas nem dos meus. Estou parecendo possessiva sem querer parecer assim. A verdade é que tenho andado por aí e passado por muitos não-lugares. Não tenho conseguido marcar nem ser marcada pelas paisagens. Sempre consigo ser marcada pelas histórias que ouço. Eu estava achando o Rio muito bonito. Até me senti feliz quando encontrei por acaso no Aterro do Flamengo as bandas de congo das comunidades de Retiro e de Araçatiba. Foi bom rever as pessoas e sambar-sem-saber-sambar na areia. Mas não era nada do Rio que estava me marcando, eu é que já estou marcada pelas comunidades quilombolas do Espírito Santo. Sempre as histórias que ouço. Mas o que eu quero dizer, é que tu me contou uma história. Tu me contou uma história no Rio de Janeiro. E eu me senti marcada no pouco (na verdade nem tão pouco) tempo em que fiquei na tua/minha sala de exposição. Era a minha sala, sabe. Eu ri ali olhando tudo o que consegui ver e ouvindo as músicas me doendo. Mesmo doendo eu ri. E me achei, me senti menos sozinha. Foi doce sentir a minha amargura encontrando a de alguém que eu nem sei quem é, e concordando com ela em muita coisa. Eu senti menos medo de andar por aí. Gostei de saber que posso encontrar, num repente, num domingo, num antes não-lugar, algum desgostoso (ou vestígios de algum desgostoso) que ainda não perdeu o lirismo. Ah, no domingo mesmo comprei um bloco e voltei a desenhar.
Precisava te contar, mesmo sem saber se tu queria ouvir. Vou publicar essa carta no meu blog (vestígios de adolescência que não quero perder) e quem sabe encaminhar outras pessoas para as tuas/minhas/delas histórias. Obrigada pela tua intromissão na minha vida.
Beijo.
Adorei! Linda carta!
ResponderExcluirEspero que já tenha conseguido se encotrar nas paisagens do Rio, que de fato são tão calorosas e tão distantes em um mesmo momento.
bj