quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

ainda sobre não-lugares.

Antônio ia embora naquele dia. Nada de amores platônicos. Ouvira falar que um amor platônico se curava com uma foda homérica. Antônio achava filosofia chato, mas fodas homéricas lhe pareciam interessantes. Antônio odiava pensar que logo estaria no ônibus, um dos não-lugares menos estimulantes que existem. E ainda tinha aquele maldito pó, ou sei lá o que, dos estofados que o faziam espirrar feito um idiota. Espirrar sem parar faz qualquer um parecer idiota. Antônio lembrou de uma vez em que viajava a Porto Alegre com a ex-namorada (foi na época em que ambos rasparam o cabelo para fazer mimetismo de amor à lá Vinícius) e ficaram se tocando no ônibus, com um casaco dela tapando as mãos e o resto. Ela gozou quase em silêncio e depois lhe disse: “Eu sempre soube que me casaria com alguém que me fizesse gozar em um ônibus rumo a Porto Alegre”. Antônio gozou. Não se casaram. Foi a única vez em que um ônibus lhe pareceu estimulante.

2 comentários:

  1. q otimo!
    heuheiue
    adorei.

    breve e incisivo.
    bjos.

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  2. Kac... Rs Confesso que eu preferiria foda homérica à filosofia platônica. Não sei se é mais inteligível e nem sei se precisa o ser...
    Mas, enfim, ah! um amor platônico, vai... quem não teve?

    Gostei um bucado. Não resisti e comentei!
    Grande abraço...

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