sexta-feira, 25 de março de 2011

rosa e hernández.




Rosa e Hernández iam casar, mas ela acabou comprando uma bicicleta. Não que ela não amasse Hernández, não era isso. É que Rosa passava por cima de muitas coisas, mas mentira era algo que a machucava irremediavelmente. E Hernández mentia. Por medo, insegurança, canalhice, hábito, habitus, ou por tudo isso. Rosa ainda achava que ele era o amor de sua vida, porém descobriu que Hernández nunca seria o homem da sua vida, o homem com quem ela dividiria o peso da sacola de feira. Claro que perceber isso doía, mais do que quase tudo que já doeu. Rosa, entretanto, não tinha escolha, ou melhor, tinha, e escolheu que mais valia uma sinceridade na boca do várias mentiras dando rasantes. Ela sabia dos riscos, lembrava da música “no campo do amor, a mulher que não mente, não tem valor”. Mas os valores de Rosa eram outros, melhores? piores? Ela não saberia dizer, eram apenas outros. E Hernández era agora também um outro para ela, um outro que ela não sabia relativizar, não estando tão perto. Rosa aprenderia a ficar só, ela, com seus espinhos sinceros.

5 comentários:

  1. eu sempre digo, só eu consigo me enganar!

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  2. É uma difícil decisão, espinhos sinceros na solidão podem ferir, tanto quanto as mentiras sinceras a dois. Até que ponto a verdade nos confortaria? As vezes a ilusão da fantasia é tão mais bela. Enfim, as decisões são de Rosa, não minhas. rs.

    Beijos.

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  3. A citação de Noel é legal, porque no teu texto Rosa é mulher, há um deslocamento corajoso, bonito. Já o texto de Noel em [Mentir] é, no final, um comentário ("pois no campo do amor a mulher que não...") sobre a mulher, e fala para uma mulher que não lhe mentiu. Quando a tua personagem Rosa chega à sua conclusão das mentiras de Hernández, chega também à impossibilidade das suas próprias mentiras futuras, há um desejo romântico de inconformidade, próprio da paixão livre (mesmo que já sendo amor, por Hernándes). Já o texto de Noel é pragmático, a mentira da qual ele se refere é outra, e é também da outra (mulher) para o outro (homem). Noel trouxe o modernismo para a canção brasileira.

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