Cecília já tinha certeza de que viveria como aquela gérbera, mergulhada sozinha na morada de vidro. Foi aí que a campainha tocou:
- Oi, eu sou Davi, mudei pro apartamento da frente. Eu fiz muita salada de fruta, quer um pouco?
Ela quis e achou que Davi tinha um quê de pescador. Só que no dia seguinte, ele apareceu convidando-a para jogar videogame e Cecília pensou “isso não combina com pescaria”. Ela disse que não podia, tinha muita coisa do mestrado para ler. Davi perguntou o que ela estudava:
- Eu estudo COM uma comunidade de pescadores.
- Que bonito. Um dia, se os pescadores deixarem, eu posso ir junto contigo fazer umas fotos? É que as coisas da água me encantam.
Foi então que Cecília percebeu que não era um ar de pescador que ele possuía e sim um ar familiar. Talvez ainda não familiar, mas que logo seria, só pelo jeito-cheiro de gente das águas que Davi tinha.
Estes dias ouvi algo sobre a distância entre criatura-criador. Cecília é tão real em meus pensamentos, que criatura e criador se confundem. Só não sei se o criador engoliu a criatura, ou a criatura engoliu o criador. De qualquer forma é belo. E daqui não saio mais.
ResponderExcluirbeijos.
O problema é que essa história não me solta. E à da sua, tem um ar familiar.
ResponderExcluirTe abraço com carinho
Eu vi, eu vi isso uma vez! Foi sim, aconteceu diferente só de o cheiro ser de terra, preta, úmida, boa de pisar, de fincar morada.
ResponderExcluirAbraco,
Elis
Comentei aqui. Me lembro. Me sinto deletado.
ResponderExcluirbonito
ResponderExcluirBonitos teus escritos (vim do twitter).
ResponderExcluirdesplaziamento é um poema muito bonito.