sábado, 16 de outubro de 2010
sobre pássaros e limoeiros.
O frio reina ainda em outubro, aquele vento de chuva a cutucar os pássaros de cujos nomes não lembramos. Os pés de Davi sentem a terra virando areia e ele segura forte os grãos entre os dedos. Cecília aparece rosada, vem do caminho dos limoeiros trazendo doçuras. Estava a colher nomes de flores para a filha que vem. Cecília usa um vestido solto, de tecido talvez um pouco mais transparente do que o suficiente, verde com pequenas flores brancas e na gola e nas mangas, babados de fundo branco com pequenas flores verdes. Davi, com os pés cada vez mais cavoucando o chão procura torná-los raiz, mas a areia não tolera que se fixe com profundidade. Cecília se aproxima e Davi conta, com a mão direita estendida: “Fui abrir uma cerveja e estava difícil. Fez um corte tão bonito na minha mão, uma linha tracejada”. Cecília beija o corte e fica com uma marca vermelha na boca, como se bebesse suco de morango e algumas gotas tivessem se perdido no caminho entre o copo e a boca. Ela lambe o gosto terroso de sangue. Davi abraça forte Cecília, sabe que ela precisa, ele a conhece melhor que à palma da mão agora cortada. Eu olho, de longe, e me esforço ainda para lembrar sobre os nomes dos pássaros.
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: )
ResponderExcluirDavi e Cecília, um casal encantador. Esses retalhos de romance, tem cheiro de flor e canto de pássaro. Bonito.
ResponderExcluirbeijo.
A preocupação com o nome, deixemos aos ornitólogos. Cecília e Davi não deslembravam do ninho.
ResponderExcluirLindo texto.
Quando há amor, o nome dos pássaros, das estrelas fica a cargo do momento.
ResponderExcluir:)
Um beijo!
Delicados flashes colhidos com cuidado.
ResponderExcluirBonito!
Nilton