domingo, 17 de janeiro de 2010

pedidos.

Ele queria um reco-reco de presente. Uma vez ele tocou reco-reco na beirinha do córrego, mas ela não entrou para a roda de jongo. Nunca soubera dançar, nem por devoção, quebrava os círculos, sempre, com alguns tropeços de iniciante. Ela pediu um coração novo de natal, um lisinho e sem tantos remendos; ganhou um vestido com flamingos e uns óculos divertidos.

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Ela conheceu uma figueira, enormes galhos esparramados, iluminada de verde, como se fosse um toldo de circo com luzes coloridas. Ficou ali por um tempo, saiu antes de tornar-se verde. Ela transformou-se em poucos dias: quase virara pedra, fizeram de tudo para que ela virasse uma pedra a afundar, mas ela teimou em ser brisa e soprar em volta da figueira. Estava apaixonada, queria tocar a figueira de leve a vida toda, arrepiá-la com seu vento. Às vezes, ela acordava agitada, pensando ter voltado a ser pedra e gritava soprando forte. A figueira a acariciava com suas folhas e cantava uma música que uma índia ensinara. A brisa adormecia, protegida, embalada e embalando, e deixava de levantar velhas poeiras, estas sim pesadas como pedra.

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