sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

notas de ontem e de hoje.

- Como tu estás magrinha!
- É, a gente emagrece...

As folhas brilhavam do outro lado da vidraça, dia quente; o sopro mais do que morno do sol. Olhei a cicatriz de queimado no punho direito. Revelei fotos, que revelaram cores, ânsia por bromélias e tartarugas, amores-brisa. Despedi-me; morri mais um pouco. Na reunião, ouvi dizerem que estamos fazendo história; desejei apenas escrever histórias para crianças, ambição bem mais honesta. A médica receitou ansiolíticos e disse que ficarei bem. Exercícios de respiração. Comprei um biquíni, esperando a praia a qual logo chega. Neguei convites atraentes: estou sozinha, cansada de encontros, romances, drinks no dance... Chorei o bocadinho de sempre, não, talvez um bocado maior. Fui dormir muito cedo. Aconteceu-me de ser acometida por uma teimosa sensação de solidão durante o sono. Acordei, meio sem acordar, a veneziana deixava entrar filetes de noite e o Centauro declamava poemas em espanhol. Adormeci. O despertador vermelho chamou pro trabalho. Olhei-me no espelho, estava bonita, apesar das olheiras (nuvens de chuva morando sob meus olhos). Eu estava realmente bonita. O vôo baixo das pombas, bater de asas com graça, e eu que sempre tive nojo de pombas. Lastimei Porto Alegre ser tão barulhenta. A pequena senhora que vende rapadura na praça usava um batom vermelho romântico não antes usado, ou não antes notado. Trabalhei um pouco, fui à biblioteca, almocei um sorvete. Voltei ao trabalho cantando lembra quando eu disse que te amava, você fez pouco caso e ainda sorriu... Dor de cabeça, daquelas de antigamente, tão antiga quanto a cantiga. Logo entrarei no ônibus, vou dormir no ninho.

Um comentário:

  1. Bethânia:

    Tua lágrima molhou a palma da minha mão encabulada. Um soluço compartilhado!? Minha maior prova de verdade.

    Querida, abraço!

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