quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Era uma segunda de carnaval chuvosa. Ela tentou desenhar por aqueles dias, mas não gostou de nenhum dos desenhos. Ela achou o dia anterior gostoso: de repente eles se fantasiaram e saíram pelo centro, fazendo de conta que eram felizes; foi convincente. Hoje ela deu um telefonema que não deveria ter dado e se sentiu idiota. Não entendia como as pessoas ficavam cruéis de uma hora para outra. Ela nunca gostara de desaparecimentos, achava-os trágicos. Ela não entendia pessoas frias nem pessoas covardes. Mas ela achava que não entendia de muita coisa mesmo. Ela queria poder dizer – “Quer que eu faça um chá com mel pra tu melhorar da gripe?”. E queria que isso pudesse ser entendido como carinho. “Por que ele tem medo de carinho?”, pensava. Para ela, carinho era bom. Para ela, era apenas um gostar e isso não deveria causar tanto temor assim. Pensou em ligar e perguntar “Porra, o que eu te fiz?”. Depois pensou que ninguém lhe devia nenhuma reposta. Mas achou que lhe deviam gentilezas, que lhe deviam sinceridades. Achou também, e achou enfaticamente, que deviam buscar o pote em que lhe trouxeram salada-de-fruta. Ela não queria aquele pote entulhando o armário de sua cozinha. Ela não queria nada entulhando sua vida. E as coisas que não eram de verdade já lhe pareciam apenas entulho.

Um comentário:

  1. Engraçado, tem mesmo sempre um pote de salada-de-fruta ou uma fôrma de bolo de fubá. E ao que parece, nunca buscam...

    Abraço. Sabe aquela história mais ou menos de tem tristeza na minha algeria ou algo parecido? Pois é, seu texto deixou uma tristeza na minha alegria hoje, sabe como?

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