sexta-feira, 3 de setembro de 2010

da chuva, das viúvas e de outras senhoras.

Chove de ouvir as poças do outro lado da veneziana, rangendo com ela. Como se aqui ninguém entrasse e se pudesse flutuar sozinho em uma cama. A chuva apela a mim, eu que só guardo gotas de mar.

Desenho bonecas com cabelos de nuvem, mas queria mesmo desenhar artérias novas para meu pai. Eu, pequena e branca como ele.

O temor bóia comigo na cama, tudo inundado nesse inverno prolongado.

Visto coletes de retalhos coloridos e me estranho no espelho. Procuro o colete salva-vidas laranja como o entardecer da casa de meus pais.

Rogo voltar a rezar, mas sinto vergonha.

A chuva cai apontando para mim do lado de lá da vidraça. Tonteio quase caindo da cama-barco em uma poça-arapuca.

Ninguém bordará “ficará tudo bem” nos dias que eu visto.
E essa moça do tempo a só prever nuvens cinza nos cabelos de minhas bonecas?

Sou viúva de um pirata, desaprendi a naufragar navios inimigos. Viúvas de piratas encolhem mais do que as outras viúvas.

4 comentários:

  1. tá chovendo desalento aqui tb! Feliz ou triste, ranzinza ou serelepe és sempre a menina bonita de q sinto saudade vez ou outra. Coca-cola me lembra a Bê, retalhos coloridos tb. Esses dias me disseram que preciso de um gato. Pensei: só se for de retalho...rs..um beijo minha flor de ipê!

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  2. Choveu hoje de manhã aqui também.
    Seu texto explica o jeito que fiquei boiando na cama... como se ela fosse um bote de um náufrago. Não tinha percebido essa imagem na hora.
    muito bom, gostei muito!

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  3. Gostei do texto, não necessariamente de boiar... #explicando

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  4. O pirata não precisa navegar sempre.
    Às vezes é dia de tesouro.
    E seu texto é um.
    Um beijo!

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