terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cecília achou bonito ver emas nas cercanias de Uruguaiana.
Gostou de atravessar a fronteira sozinha – mochileira intergaláctica.
Buenos Aires era cinza (até ela descobrir o Caminito).
Riu ao serem expulsos de bares.
Cecília achou que a Argentina não lhe quis bem.
Pensou em azar – esqueceu de perguntar se os argentinos acreditam em mau-olhado.
Ela temeu os pombos da Plazoleta Julio Cortázar.
Cecília não encontrou a casa de Borges.
Procurou receitas escondidas entre as panelas de Gardel – um regalo para um doce cozinheiro.
Não se encantou por Buenos Aires,
mas um velho taxista cantando-lhe tangos pareceu encantador.
Cecília desejou uma suíte de casal; desejos na Argentina.
Cansou da antropologia e dos antropólogos,
depois des-cansou.
A moça procurou um tênis colombiano para colorir suas pisadas,
mas seu pé era pequeno para as formas argentinas.
Cecília sentiu-se pequena regressando – caminho estranho.
Perdeu-se em algum lugar na volta.
Muita coisa deu errado naquele dia, e ela errava tanto,
sempre.
Chorou sozinha.
Por fim, leu (duas vezes) o Lorca que ganhou.
Sentiu saudade dos passeios acompanhada em Buenos Aires.
Voltando a Santa Maria ou Porto Alegre,
Cecília sorriu ao escutar
“Moriré en Buenos Aires,
será de madrugada,
guardaré mansamente las cosas de vivir,
mi pequeña poesía de adioses y de balas,
mi tabaco, mi tango, mi puñado de esplín”.
Não morreria.

4 comentários:

  1. Essa Cecília que viva a cambalear, se perdendo aqui e acolá!
    Saudade!

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  2. e com tantos erros e tropeços ele olhou para o chão e achou um pequeno broto de flor, guardou no seu bolso esperando que pudesse se tornar um lindo jardim. regando meio tímido a raíz acabou por se firmar e ele espera que a flor logo desabroche ainda nessa primavera.

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  3. poderia ser pelo campus também, não?

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