segunda-feira, 28 de abril de 2008

Andamos durante a noite, falando dos menores estados de ânimo dos quais nos lembrávamos. Ele não olhava como se soubesse alguma coisa de mim; não, parecia que me via apenas agora. E o que fora aquele eterno despertador vermelho? Antiquado, como, aliás, também nós o fomos. O pijama azul: ele esquecera a camisa do pijama azul como quem esquece um pedaço do céu de outono na grama do parque. Lavei, passei, fiz a vida em uma casa que não era minha. Falhei em tantos planos que ele ainda sabe cobrar. Ainda falho em abrir vidros de palmito e algumas conservas. Arrumar as malas, calçar um sapato que não cause bolhas como aquelas do caminhar de ontem à noite, e voar. Ele pede que eu leve algumas coisas na mala. Levo a camisa do pijama e muitos outros itens não encomendados. Levo o que é preciso levar, nada me parece pesar nessa mala.

segunda-feira, 21 de abril de 2008


cheiro.
ela lembra o cheiro sentido por entre a barba-consolo que ele usa.
marcas de mordida – mais roxas que as ostentadas por Natalie Portman naquele curta.
ele olha o calendário.
- Ah, baby.
o “ah” pronunciado lento e o “baby” rapidinho.
ela acha graça.
na entrada do beco, ele finalmente percebe quem é Felisberto Hernandéz.
- Eu também quero um jardim plantado de sombrinhas.
ele diz que eles terão.
ela sussurra que não demora muito a voltar;
escuta a vontade dele de chorar ao telefone.
nunca existiu casal tão bonito por entre aqueles morros:
é a própria poesia caminhando serena pelo parque.
e ainda é apenas outono.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Abril e aqui não faz frio. Mais um ano de estranhamento, dois ao todo. Acho que estou com febre. Talvez jantar damascos não seja assim tão nutritivo. Preciso de nutrientes. Lembra quando tu começou a falar “você”? Aquilo me deixava tão agoniada. Queria ter uma máquina de costura, e saber costurar, claro. Acho que hoje é uma boa noite para beber gim com tônica, esse drink de mulherzinha. E a vida por aí? O céu continua o mais estrelado de todos nas noites limpas? Penso não haver necessidade de definir o que são noites limpas, espero estar correta. É, só de visita. Ainda se oferece chá para as visitas ou saiu de moda? Sabe como é, faz tempo que eu não leio os manuais de etiqueta. Passei na primeira fase apenas, na tua primeira fase. Depois, bem, sabe, era tudo tão solitário e eu tão assustada. Vários sustos, não é? Será bom agora, eu acho. Com esse calor eu até iria para a praia, mas agora, com essa pseudo-febre, talvez não seja uma boa coisa. Deixamos pra mais tarde?

terça-feira, 8 de abril de 2008

http://pontadevista.blogspot.com/2008/04/blog-post.html
Ciprestes, gosto dos ciprestes, apesar de serem sombrios. Hora de ficar por lá. Lá é o único voltar possível. Carolina disse que o dia da minha partida (mais uma vez) seria o dia mais triste de todos. Bom, bom, bom, estar em casa, estar entre os amores. As minhas pessoas: o importante da vida, e só.