Eu sabia um tanto de coisas
mas isso foi antes,
quando o tempo ainda não tinha parado.
Eu já tinha visto o tempo parar,
na primeira vez em que estive na Vila de Itaúnas.
Eu, Breno, Vitor e Simone comíamos lanches ruins
em frente à Igreja de São Sebastião.
Um senhor passou de bicicleta com uma viola nas costas,
soprou um vento de lugares assim, que são beiradas do mundo,
a terra levantou em redemoinhos
e então o tempo estava parado.
Agora é diferente,
o tempo parou dentro de mim.
O tempo estagnado aqui dentro, torna-me presa dele,
imóvel
mas sem criar limo ou raiz.
E o tempo de fora não muda,
continua alheio a mim como há de ser.
Ouço seu barulho constante,
um barulho de microfone próximo demais da caixa de som.
Não é como quando o tempo do mundo para e tudo fica suspenso em silêncio.
Esse ruído infinito causa náusea e vertigem
mas não tem queda.
Só uma lenta transformação em um destes bustos de figuras condenáveis que deveríamos derrubar
mas apenas deixamos para lá,
num canto da praça.
Estou virando uma estátua
sisuda, fria e descascada,
servindo apenas de banheiro para pássaros
que nem lembram mais da vida nas matas.