segunda-feira, 19 de novembro de 2012

perfil - nov/2012

Me gusta reir como una loca.
lindo é uma ducha quente esfumaçando o banheiro do hotel pela manhã.
pedaços de vidro, nos mais variados formatos, também me encantam.
começo a sentir que envelheço rápido.
eu achava que com o tempo aprenderia a ser mais paciente;
é o contrário.
tenho a cada dia mais ganas de esganar.
não sou doce, não sou bonita, não sei sambar.
o não-fazer-nada me atrai sempre mais.
apesar disso, eu falo, e falo, e falo...
e nem são muito belas as coisas que digo.
Por qué no te callas, Bethânia?

terça-feira, 11 de setembro de 2012

sala da árvore.

Há uma árvore na minha sala,
famílias de pássaros e estranhas lagartixas.
Uma casa que ainda não me possui.
Um casamento que não me convence.
Eu, mais branca que a lagartixa,
tenho medo do vulto dos galhos quando escurece.
Queria ser bicho, mas temo o vento.
Tendo que ser uma esposa, eu estou mais pra casulo.
Borboleta que involuiu.
Era para ser uma casa a dois, mas tenho sido caracol,
sozinho com o peso da morada.
Caracol deixando rastro de lesma.
Comendo as folhas da árvore da sala.
Comendo a sala.
Quebrando um pedaço da casa-concha a cada tropeço.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

anotações sobre as águas.

nas águas moram seres assustadores, mas eles são coloridos.
para navegar, há de se ter fé.
e a areia cobriu o mastro
(para conhecer o mar, tem que saber cantar).
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os peixes são filhos da Mãe d'Água.
ela me chama nas noites certas.
não possuo escamas,
sou peixe de lodaçal.
queria ter o colorido da Mãe D'água:
escamas-escudo de cristal fino.
sou peixe de couro,
vivo na parte escura do rio.
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a cobra grande tem o cheiro azul.
não! o cheiro é verde.
............ marcas da cobra
rastros linhas traços
aquilo que se mostra sem se mostrar.
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gosto mais da cor morena, que casa com a areia da praia e com o verde da beira do rio.
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anotações sobre assombrações:
ele me assombra, escorrega no frio por ele feito verão.
é peixe de rio,
de um rio no qual eu não consigo desaguar.
os meandros onde o peixe repousa
com seus olhos-de-não-compreender.
de que rio é feito esse choro?
rio misturado com mar.
um peixe morando em teu olho.
como se nada assim em um outro?
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o meu córrego preferido tem nome de árvore.
quero parir dentro d'água uma menina com nome de flor.
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eu não sei remar,
isso é triste porque eu não deslizo.
eu gostaria mais de saber remar do que escrever.
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em qual camada na terra você vive?
eu vivo na mais úmida,
acho que é o ventre de alguém.
aqui há sempre um barulho de água pingando.