Cortázar disse que a duração média do choro é de três minutos. Deixo aqui dito que não me incluo nessa média. Choro por horas, até dormir exausta. Choro sem discrição. Choro lágrimas de crocodilo, embora goste mais de jacarés. Choro no cinema. Choro ao telefone. Choro em discussões no trabalho. Choro no ônibus e na parada de ônibus. Choro no centro apressado de fim de tarde. Choro embaixo do guarda-chuva, embaixo da chuva, nas ruas que sempre alagam das cidades litorâneas. Choro longe do litoral. E choro em casa, feito criança chorona de Cortázar, limpando o nariz na manga da blusa. Acho-me feia chorando. O rosto fica vermelho, com nariz de palhaço. Não gosto de palhaço triste. Eu moro sozinha em um apartamento sem sacada. Queria que meu apartamento tivesse as cores de Almodóvar. Até que tem. Queria ter vasos com pés de hortelã, mas viajo muito; as ervinhas morreriam secas. Não tenho ninguém para regar as hortelãs (que não tenho) para mim. E o motivo pelo qual eu choro tanto? Choro pela saudade do cheiro que as hortelãs trazem. Por lembrar que minha avó contava que quando ela e suas irmãs, no seu tempo de moças do interior, iam a alguma festa, colocavam uma folhinha de hortelã dentro do sutiã para usar como perfume. Ai, como eu queria ter um só pezinho de hortelã. Hoje choro pelas hortelãs. E choro muito. Mas amanhã chorarei mais, que o choro será por não ter ninguém nem para regar as hortelãs.