quarta-feira, 25 de julho de 2007

liminaridade.

Os atributos de liminaridade, ou de personae (pessoas) liminares são necessariamente ambíguos, uma vez que esta condição e estas pessoas furtam-se ou escapam à rede de classificações que normalmente determinam a localização de estados e posições num espaço cultural. As entidades liminares não se situam aqui nem lá; estão no meio e entre posições atribuídas e ordenadas pela lei, pelos costumes, convenções e cerimonial. (...) Assim, a liminaridade freqüentemente é comparada à morte, ao estar no útero, à invisibilidade, à escuridão, à bissexualidade, às regiões selvagens e a um eclipse do sol ou da lua.
(Vitor Turner)



Fico pensando em mim como atravessando um estado liminar. Por vezes tendo a achar que este estado tem durado muito, que já deveria estar na fase de “reagregação”. Entristeço. Acho que nunca chegarei a esta fase. Ao menos não aqui. Flutuo. Deslizo entre as pessoas que não me reconhecem; nas quais não me reconheço. Procuro os cantos. Calo em momentos os quais geralmente me fariam berrar. Não tenho crises histéricas. Crises histéricas são para se ter entre os nossos. Rio pouco. Não dou saltinhos pelas ruas conhecidas (não existem ruas conhecidas). Não imito sotaque “português de Portugal”. Procuro manter-me neutra. Sinto-me doente, fraca. Tenho enjôos. À noite, congelo, depois umedeço as cobertas de tanto suar. Não tenho fome. Não tenho sede. Quase nem choro...

Vislumbro como única solução à volta ao estado inicial.