quinta-feira, 24 de maio de 2007

Poeminha Territorial II.


E se Maria me abandonar?
E se Maria me esquecer?
Não vivo sem os caminhos de Maria.
E se Maria me trocar por uma estudante de filosofia vinda do interior?
Não, Maria, não me deixe com Vitória.
Vitória é bela, mas fria, Maria.
E um tanto burra também.
Ai, Maria.
Ai de mim.
Preciso do teu sopro,
do teu assombro.

sábado, 19 de maio de 2007

mais um drama que já passou.

acordamos. a noite bebendo cerveja barata e discutindo o existir. discutir cinco minutos antes de dormir como pedra nunca foi um ato inteligente. pensei que tu me acordaria chupando meus peitinhos. meus peitos, os mais lindos do mundo, ainda. mas não, claro que não. tu acordou com fome, de comida, infelizmente. nem quis enrolar na cama, nem pediu pelos meu gemidos. achei ruim. trágico, na verdade. não queria achar que parecíamos um casal entediado e imóvel. te vi gordo. te vi perdendo tudo o que sempre me pareceu tão sexy. à tarde não fomos ao sex shop como há muito combinávamos. te achei preguiçoso. a resposta de que tu não precisava de acessórios para me comer não me convenceu. continuei te achando preguiçoso. fiquei sem vontade de transar com um bukowski fajuto e aposentado. perguntei se tu precisava de um pouco de espaço, se queria ficar sozinho. acho que eu queria ficar sozinha. queria ler textos eróticos e me tocar, sem acessórios. eu sim sem acessórios. talvez imaginar anna karina lambendo meus mamilos. pensar em natalie portman fazendo strip em cima do meu corpo branco. ela estaria usando aquela peruca cor-de-rosa. era isso, queria ficar sozinha e não pensar em ti e em nenhum outro homem. os homens estavam parecendo inúteis. queria sexo, sabe. mas sexo de enlouquecer, de implorar por mais forte e por mais rápido. queria ser amarrada naquele instante e tremer apenas com um toque. pensei que tu nunca mais ia ser capaz de me fazer feliz assim. dessa felicidade de amantes irrecuperáveis. não sabia se algum dia voltaríamos a ser irrecuperáveis.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

música de roda da minha terra:

"a lua no céu também quer dançar,
não acha com quem e se põe a chorar,
mas passa um balão, bonito, encarnado
e dança com a lua um lindo bailado".

domingo, 13 de maio de 2007

cecília e as galinhas.

Cecília tropeça muito. É desastrada. Un éléphant dans un magasin de porcelaines. “Deve ser agradável entrar em uma banheira com gelatina”. Cecília ri de suas bobices. Acha-se ingênua. Quer ser ingênua. Cecília cansou de ser espertinha. Dá muito trabalho. Pensa em colecionar pedras. Trazer uma pedrinha de cada lugar. Sente falta de sexo. Não agüenta mais tantos livros. Espirra de alergia. Cecília queria ter letra bonita, como seu pai. E comer menos chocolate. Ela acha interessante estudar línguas indígenas. Não, mentira! Cecília nem se interessa por isso. Cecília interessa-se por galinhas. Claro, galinhas! Perdeu o medo que tinha das galinhas. Quem também se interessar por galinhas, escreva para Av. Morumbi, 8264 – São Paulo – SP – CEP: 04703-032. Aos cuidados de Davi. Cecília cansou de relacionamentos. Decide ir morar no mato. Faz uma trouxinha com sua colcha de retalhos. Cecília foi para o mato criar galinhas.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Encantar

do Lat. incantare
v. tr.,
exercer encantamento em;
seduzir, enlevar, maravilhar;
atrair;
v. refl.,
tomar-se de encanto;
enlevar-se;
maravilhar-se;
desaparecer, tornar-se invisível.


Teve medo do desaparecer, tornar-se invisível. Pensou não saber mais se diria: “sou encantada por ti”. Num daqueles dias, ela confessara que ele não mais a encantava. Hoje, justamente na manhã de hoje, ela acordou feliz. E sentiu (na fila do banco ela sentiu doçuras) que finalmente ele voltara a encantá-la. Ele gostaria de saber isso. Saber do desencantamento deixara-o desolado. Fora uma daquelas verdades as quais não devem ser ditas; só devem ser ditas quando se quer fazer doer. Não deveríamos querer fazer doer. Ou só fazer aquele doer pouquinho (nem sempre tão pouquinho assim) nos momentos em que o amante diz rouco, quase suplicando: “me bate” – ou me morde, ou me aperta, ou ou ou. Saindo do banco ela, ainda sentindo todas aquelas breguices de quem se encontra apaixonado, pensou, sem saber muito o motivo do pensamento, no significado da palavra encantar. Lembrou de contos de fada, de magias, de narrativas inventadas por seus pais antes de irem todos dormir. Queria que ele a encantasse, gostava de sentir-se encantada, até achava bonito isso de encantos tipo feitiço. Mas não gostou de lembrar de quando sua avó procurava o batom preferido, com aquele jeito esquisito com que as avós procuram as coisas, e depois lhe dizia, sem muito espanto: “meu batom sumiu como que por encanto”. Para sua avó tudo desaparecia no quarto repleto de coisas antigas e coisas guardadas e coisas de porcelana “como que por encanto”. Ela não queria que ele sumisse como que por encanto. Não queria que ele se tornasse invisível. Havia muitos anos que ela não mais acreditava em coisas invisíveis. A não ser, é claro, naquelas coisas que a medicina moderna ensinara a acreditar (e temer). Se ele se tornasse invisível ou ela não acreditaria mais na sua existência ou passaria a borrifá-lo com spray anti-séptico, mesmo não sabendo como poderia acertar com spray anti-séptico alguém invisível. O pior mesmo era pensar no desaparecimento. Ele sendo encantado, poderia sumir a qualquer instante. Seria triste, seria uma tragédia dessas de chorar soluçando por muitos dias. Se ela contasse ter percebido que ele voltara a encantá-la, não conseguiria deixar de dizer todo o significado ruim disso. E o dia foi perdendo a graça. Então, como que por encanto, ela pensou que se ela era encantada por ele, a magia dele recaía sobre ela. Os dois eram encantados, enfim. Ela também poderia desaparecer, tornar-se invisível. Sorriu. Percebeu que eles eram encantados apenas um para o outro. Serem encanto/encantados/encantadores era um ser-um-com-o-outro/um-para-o-outro. E sendo assim, apenas poderiam desaparecer, tornar-se invisível se fizessem isso juntos. Ela não teve mais medo. Sabia ser este um pensamento bobo, desses bem bobocas, e sem muita lógica, ainda assim não teve mais medo. Contos de fada, de magia, feitiço ou encantamento nunca fazem muito sentido mesmo. Ou então, não o fazem para muitas pessoas.