quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

carta de amor (Pessoa diria, mais uma vez, que cartas de amor são ridículas).

falar que estou encantada e que me entreguei, isso tu já sabe. que eu te amo e quero ser tua, também já repeti e repeti e repeti. talvez tu não saiba do medo que eu tenho. medo de que tu não te entregue. sei que não era pra ter sentimento de posse. mas o amor sempre quer ter um pouco da coisa amada. e isso não precisa ser triste. te quero por inteiro. e, mesmo assim, te quero livre. mas te quero de verdade. quero que tu seja meu namorado, meu marido, meu amante, meu dançarino que cai no chão na festa. quero ser tua namorada, tua enamorada, tua esposinha, tua puta, tua rainha, tua guria blasé. quero o teu sopro todo dia. quero o teu corpo todo dia e toda noite. e que seja assim, sem ser trágico. não quero que a gente se isole, nem que viva um amor egoísta. mas quero que a gente tenha umas piadas internas, que a gente se olhe umas olhadinhas de relance e já saiba o que o outro está pensando. quero que a gente vá nas festas juntos, no cinema juntos, na padaria juntos, no buteco fuleiro da esquina juntos. e quero também que a gente vá a todos esses lugares sozinhos, ou com quem se quiser ir. quero que isso de dizer "a gente" seja perfeito e mais perfeito ainda. e quando não for mais, pronto, que não seja, que se diga: Adeus, Maria Fulô. mas quero que seja sempre sincero, e que seja sempre tudo o que pode ser. não sei viver de outro jeito, não sei viver ser ser descaradamente, escancaradamente, inteiramente. quero uma vida calma, mas nunca morna. quero ser tua e que tu seja meu. e que tu entenda que isso pode ser leve, que isso pode ser doce ser ser enjoativo. entende, eu não nasci pra nada mais ou menos.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

cecília careca.

Quando Cecília tinha cabelos,
ela criava galinhas.
E transava.
Cecília era amante,
minha amante.
Um dia, Cecília matou as galinhas:
fez canja.
Deixou a Macedônia.
Cecília foi morar no Cerrado.
Ela não gostou da terra vermelha.
Vermelho não é cor para o chão.
Underground.
Cecília então foi à praia, e enferrujou com o sal.
Ela ficou da cor da terra vermelha.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Carolina, do alto de seus 2 anos e 10 meses, avisou que os "aliemígicas" estão invadindo a terra.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

carinho.


Em casa: é bom aqui. É calmo aqui dentro. Um pouco triste. O tio piorou. Fui visitá-lo com meu pai. Queria agarrar forte e não soltar. Perguntei: tio, me conta a história de Nossa Senhora da Salete? Ele começou a contar, mas com uma voz tão fraquinha que eu tive medo de ele ir-se no meio da frase. O tio ainda queria relacionar o mito da aparição com o contexto político da época, manifesto comunista e tal. Ele queria falar, mas eu tinha vontade de chorar e dizer: tá, tio, não fala mais, guarda esse fiozinho de voz. Aqueles pequenos olhos azuis... À tarde meu pai tinha decidido me mostrar o alto-Uruguai. Meu pai gosta de mostrar as coisas que ele já viu. Roubamos goiaba pelo caminho. E falamos mal da monocultura de eucalipto. Eu e meu pai nos parecemos. Queria ter os olhos de um verde vivo, como meu pai. Se eu pudesse, tirava toda a agonia dos olhos azuis do tio. E toda a preocupação dos olhos verdes do pai. Não queria ir pra longe deles nunca mais.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

fotografia.

Fotografo-me nua,
soprando bolinhas de sabão.
Cores de um prisma.
As fotos são tuas.
Quero que te toque olhando para mim.
Que tu ache meus seios os mais lindos.
Meus mamilos apontando
tua boca.
Me lambe, com calma, em paz.
Tu vai me achar doce.
Vai perguntar se pode morder.
Eu deixo,
a tua boca, eu deixo,
fazer qualquer coisa.
Et après?
Depois eu te chupo.
Te sugo, teu suco.
Lambuza meu corpo, meu rosto,
minha vida.
Tudo simples assim.Fotografia opaca e com borda.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

dramas.

I love you. La, la, love you... Hoje não tenho uma pergunta a ser feita. Nada a dizer sobre cidade nenhuma. Aprendi a engavetar. E aprendi a colocar saches para perfumar as gavetas. Quem sabe um vôo? Ganhei um bolo; um bolo com confeitos coloridos. A Fer ligou lá da Bélgica. Disse que na Bélgica não falam belga. Fernanda disse que belga não existe. Ando viciada em comprar cortinas. E essa estrada surpresa que não chega a porto nenhum? Sabe, eu preciso de platéia. “My contention is that the major genres of cultural performance (from ritual to theatre and film) and narration (from myth to the novel) not only originate in the social drama but also continue to draw meaning and force from the social drama”. Turner entenderia meus dramas? Queria minha mãe aqui, para dizer se estou bonita como uma noiva. Estou bem assim, mãe? Talvez ela aumentasse a dose do meu anti-depressivo.

esmalte.

Cecília sufocada.
Aquela tão conhecida vontade de gritar.
Não consegue respirar direito.
Queria desacelerar.
Cecília trêmula.
O que acontece, Cecília?
Tomou teus remédios, mocinha?
Cecília sente a boca seca.
Cecília sente a vida seca.
Quem ressecou tua vida?
O choro vem vindo e Cecília abaixa as pálpebras com as pontas dos dedos.
Abre los ojos!
Cecília olha molhado para o chão.
O esmalte branco descascado das unhas dos pés.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Sabe o pior dia da tua vida? Não foi mais o pior.
Pois bem, um moço poema-pintura-cinema; um moço perdido com uma garrafa de vinho...
Anna Karina falando e rodando e linda e nós lado a lado. Ah, deixa Godard para lá!
Um moço sonho-sonhado que tira meus óculos e diz que sou tão pequeninha e me aperta de confortar.
E me faz gemer meio rouca, e pede se pode ficar - fica e fica um pouco mais e um pouco até bem depois.
Esse moço fez a noite sorriso e foi para praia com o sol.
Foi numa brisa cantando White Stripes...e eu atravessei uma ponte sentido as bochechas corar.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Amanhã é meu aniversário. De presente, queria voltar. Voltar! E já que o amor é uma falácia, quero um casaco de pele de marmota. E se não puderes voltar? Quereria então gim com tônica; a vida seria amarga e amarga e amarga. E quem se importa com o teu/meu querer? Vou colar adesivos coloridos pelo corpo. Que cor colore a saudade?

domingo, 4 de fevereiro de 2007

os imponderáveis da vida real.


Sobre os imponderáveis da (minha) vida real (mania de Malinowski ultimamente; bizarro). Diego nasceu, parece o Marcelo-amarelo. Matheus disse que sou sua musa nouvelle vague. Foram as únicas coisas bonitas dos últimos dias. O tio piorou, e eu fico odiando mais ainda estar longe. Quero abraçar meu pai. Ele, mãe e Carolina foram visitar o tio. Mami doida acaba de mandar uma mensagem do celular: “Na estrada, atrás do caminhão de porcos; dois andares, os de cima cagam nos de baixo; fedorão! Dói meu pé contundido. A Nina dorme. O tio Jorge ficou dizendo - tiau Nina, tiau Nina. A gente queria voltar, pegar no colo, não deixar ir. Estamos em Passo Fundo, num temporal. Te amo!”. Minha mãe é uma doce maluquinha. Estou bonita hoje, vestindo vestido velho. E chove. A chuva daqui não é bonita como a chuva que eu gosto. Ana disse que eu sou cruel; não gosto de ser cruel. Dia desses, comemos no restaurante japonês. Ana riu de mim com os palitinhos. Sou cruel e atrapalhada. Carolina ainda está emburrada comigo, pela distância. Não fala no telefone, diz para mãe que eu sou “nojenta de perna de barata”. Em março, viajo a Brasília, pensei que seria ao Maranhão. Pena, queria conhecer o Maranhão. Brasília é seca, não só no clima. Queria falar com tanta gente, mas cansei de internet e telefone. Sexta, vou para Porto Alegre. A vida vai voltar a ser boa.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

saudade de casa e do Poko.

Cecília observa Degas.
O ferro não funciona direito.
Quem se importa
se Cecília vai aos Correios?
se Cecília come brioches?
se vira uma porca de gorda?
se fazem torresmo?
Cecília vai à Prainha.
Nem tem biquíni,
nem tem bolinha.
Tem boleta, Cecília?
Tem buceta, Cecília?
Ai, que sem-gracera sem fim.
Cecília quer abraçar a mamãe:
“abraço apertado até ter melhorado”.
Cecília está cheirando a Alvex.
Ela limpou a casa.
Cecília limpou a casa por dentro.

ilhas Trobriand.

Relendo os textos de Malinowski sobre as ilhas Trobriand:

“Entre esses nativos, a castidade é virtude desconhecida. Eles são introduzidos à vida sexual em idade incrivelmente precoce; muitos dos seus jogos infantis, de aparente inocência, não são na realidade tão inócuos como poderíamos crer. Com o tempo, os jovens passam a uma vida de promiscuidade e amor livre; gradualmente, porém, se vão envolvendo em casos mais sérios e duradouros, um dos quais termina em casamento. Antes que isso aconteça, entretanto, as jovens solteiras são livres para fazerem o que quiserem; existem, inclusive, arranjos cerimoniais em que as jovens de uma aldeia vão em grupos a outros locais. Ali se põem em fila para inspeção e cada uma delas é então escolhida por um rapaz, com o qual passa a noite. Esse ritual é denominado katuyiausi. (...) Há um outro tipo, bastante notável, de ritual licencioso em que, as mulheres abertamente tomam todas as iniciativas. Durante os trabalhos agrícolas, na época em que as ervas daninhas são arrancadas dos campos, as mulheres perfazem essa tarefa comunitariamente. Está sujeito a grandes riscos o estranho que nessa época se aventura a passar pelo distrito: as mulheres o perseguem, o agarram, arrancam-lhe a tanga e o tratam de maneira ignominiosa e orgiástica”.

Apenas relendo...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

o pirata e a tulipa.

“Babies não dizem bye bye”. E quem diz? Meus cabelos são os mais lisos e finos, e estão caindo. Meus cabelos roxos caem. Uma tulipa apaixonou-se por um pirata. Sem perna-de-pau. A tulipa gosta de circo. O moço moreno me comeu até que a tulipa doesse. Ela gostou de doer. Sou fofa; além de ser uma lagartixa listrada. Será que lagartixas listradas têm medo de baratas? Eu tenho medo de baratas. Casei com um poeta barbudo. Vou ter camisetas pintadas, filhos polacos, e muito sexo oral. Tenho que arcar com as conseqüências. Há! Desde quando lagartixas listradas pensam nisso? Tulipa acrobata, com ventosas. Raios-de-sol têm cheiro de nenê. Vou ter a Cecília. Vai ser minha. Cecília vai ser filha de um pirata. Seu jardim vai ter tulipas. Talvez margaridas. Vou fazer um bolo de margaridas. É carnaval. É meu aniversário. Farei um churrasco (mas comer carne é assassinato!). Vacas são burras. Galinhas são toscas. Acabo de matar um mosquito. O pirata telefona e diz que ama a tulipa. Ela chora-ri. Queria desenhar essa história. Quem dirige os táxis são os taxistas, sabia? Eu fui rainha da festa da uva. Não, não transei no Gasômetro. A lagartixa listrada escondeu-se na barba do poeta. O pirata foi morar com uma borboleta. A tulipa ficou chorando. Gosto do jeito que o moço moreno fala. Gosto de ouvir o moço moreno. Vou dormir no poeta barbudo. Existe uma espécie chamada cuicuicui. Só existem dois cuicuicuis no mundo. Eles são doidinhos, doidinhos. Os cuicucuis vão ficar juntos para sempre e sempre. Antes de dormir, a tulipa canta ao pirata. O pirata é livre por ela. Piratas gostam de Fanta Uva. É uma história bonitinha. Um pouco triste também. Queria que meu porto fosse o pôr-do-sol do lago-rio. Queria morar no lago-rio, dentro de um navio pirata; ou de um pirata navio.